quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Lobos Internos


Um velho avô disse ao neto, que veio a ele com raiva de um amigo que lhe havia feito uma injustiça:
- Deixe-me contar uma história. Eu mesmo, algumas vezes, senti grande ódio por aqueles que aprontraram tanto comigo, sem qualquer arrependimento.
Todavia, o ódio corrói você, mas não fere seu inimigo. É o mesmo que tomar veneno, desejando que seu inimigo morra. Lutei muitas vezes contra estes sentimentos.
O avô continuou:
-     É como se existissem dois lobos dentro de mim. Um deles é bom e não magoa. Ele vive em harmonia com todos ao seu redor e não se ofende quando não se teve intenção de ofender. Ele só lutará quando for certo fazer isto, e da maneira correta. Mas o outro lobo, ah! este é cheio de raiva. 
Mesmo as pequeninas coisas o lançam num ataque de ira! Ele briga com todos, o tempo todo, sem qualquer motivo.Ele não pode pensar, porque sua raiva e seu ódio são muito grandes. É uma raiva inútil, pois ela não irá mudar coisa alguma.
E concluiu:
- Algumas vezes é difícil conviver com estes dois lobos dentro de mim, pois ambos tentam dominar meu espírito.
O garoto olhou intensamente nos olhos do avô e perguntou:
- Qual deles vence, vovô?
O avô sorriu e respondeu baixinho:
-     Aquele que eu alimento mais!
E você?
Qual dos lobos tem alimentado mais? É preciso mudar?
Então mãos à obra!

                     
                                                                                          (Desconheço a autoria)

A História do Ernani


Certa vez, trabalhei em uma pequena empresa de Engenharia. Foi lá que fiquei conhecendo um rapaz chamado Mauro. Ele era grandalhão e gostava de fazer brincadeiras com os outros, sempre pregando pequenas peças. Havia também o Ernani, que era um pouco mais velho que o resto do grupo. Sempre quieto, inofensivo, à parte, Ernani costumava comer o seu lanche sozinho, num canto da sala. Ele não participava das brincadeiras que fazíamos após o almoço, sendo que, ao terminar a refeição, sempre sentava sozinho debaixo de uma árvore mais distante. 

Devido a esse seu comportamento, Ernani era o alvo natural das brincadeiras e piadas do grupo. Ora ele encontrava um sapo na marmita, ora um rato morto em seu chapéu. E o que achávamos mais incrível é que ele sempre aceitava aquilo sem ficar bravo.
Em um feriado prolongado, Mauro resolveu ir pescar no Pantanal. Antes, nos prometeu que, se conseguisse sucesso, iria dar um pouco do resultado da pesca para cada um de nós. No seu retorno, ficamos todos muito animados quando vimos que ele havia pescado alguns dourados enormes. Mauro, entretanto, levou-nos para um canto e nos disse que tinha preparado uma boa peça para aplicar no Ernani. Mauro dividira os dourados, fazendo pacotes com uma boa porção para cada um de nós. Mas, a 'peça' programada era que ele havia separado os restos dos peixes num pacote maior, à parte. 

- Vai ser muito engraçado quando o Ernani desembrulhar esse 'presente' e encontrar espinhas, peles e vísceras!, - disse-nos Mauro, que já estava se divertindo com aquilo. 


Mauro então distribuiu os pacotes no horário do almoço. 
  

Cada um de nós, que ia abrindo o seu pacote contendo uma bela porção de peixe, então dizia: 

- Obrigado! 


Mas o maior pacote de todos, ele deixou por último. 
Era para o Ernani. 
  
Todos nós já estávamos quase explodindo de vontade de rir, sendo que Mauro exibia um ar especial, de grande satisfação. Como sempre, Ernani estava sentado sozinho, no lado mais afastado da grande mesa. Mauro então levou o pacote para perto dele, e todos ficamos na expectativa do que estava para acontecer. Ernani não era o tipo de muitas palavras. Ele falava tão pouco que, muitas vezes, nem se percebia que ele estava por perto. Em três anos, ele provavelmente não tinha dito nem cem palavras ao todo. Por isso, o que aconteceu a seguir nos pegou de surpresa. 
  
Ele pegou o pacote firmemente nas mãos e o levantou devagar, com um grande sorriso no rosto. 
Foi então que notamos que seus olhos estavam brilhando. 

Por alguns momentos, o seu pomo de Adão se moveu para cima e para baixo, até ele conseguir controlar sua emoção. 

- Eu sabia que você não ia se esquecer de mim - disse com a voz embargada. Eu sabia, você é grandalhão e gosta de fazer brincadeiras, mas sempre soube que você tem um bom coração
  

Ele engoliu em seco novamente, e continuou falando, dessa vez para todos nós.

- Eu sei que não tenho sido muito participativo com vocês, mas nunca foi por má intenção. Sabem... Eu tenho cinco filhos em casa, e uma esposa inválida, que há quatro anos está presa na cama. E estou ciente de que ela nunca mais vai melhorar. Às vezes, quando ela passa mal, eu tenho que ficar a noite inteira acordado, cuidando dela. E a maior parte do meu salário tem sido para os seus médicos e os remédios. As crianças fazem o que podem para ajudar, mas tem sido difícil colocar comida para todos na mesa. Vocês talvez achem esquisito que eu vá comer o meu almoço sozinho, num canto... Bem, é que eu fico meio envergonhado, porque na maioria das vezes eu não tenho nada para pôr no meu sanduíche. Ou, como hoje, eu tinha somente uma batata na minha marmita. Mas eu quero que saibam que essa porção de peixe representa, realmente, muito para mim. Provavelmente muito mais do que para qualquer um de vocês, porque hoje à noite os meus filhos ...
  
Ele limpou as lágrimas dos olhos com as costas das mãos. 
- Hoje à noite os meus filhos vão ter, realmente, depois de alguns anos... e ele começou a abrir o pacote... 


Nós tínhamos estado prestando tanta atenção no Ernani, enquanto ele falava, que nem havíamos notado a reação do Mauro. Mas agora, todos percebemos a sua aflição quando ele saltou e tentou pegar o pacote das mãos do Ernani. Mas era tarde demais. Ernani já tinha aberto e pacote e estava, agora, examinando cada pedaço de espinha, cada porção de pele e de vísceras, levantando cada rabo de peixe. Era para ter sido tão engraçado, mas ninguém riu. Todos nós ficamos olhando para baixo. E a pior parte foi quando Ernani, tentando sorrir, falou a mesma coisa que todos nós havíamos dito anteriormente:

- Obrigado!

Em silêncio, um a um, cada um dos colegas pegou o seu pacote e o colocou na frente do Ernani, porque depois de muitos anos nós havíamos, de repente, entendido quem era realmente o Ernani. 
  
Uma semana depois, a esposa de Ernani faleceu. 
Cada um de nós, daquele grupo, passou então a ajudar as cinco crianças. 
Graças ao grande espírito de luta que elas possuíam, todas progrediram muito: 
  

Carlinhos, o mais novo, tornou-se um importante médico. Fernanda, Paula e Luisa montaram o seu próprio e bem-sucedido negócio: elas produzem e vendem doces e salgados para padarias e supermercados. O mais velho, Ernani Júnior, formou-se em Engenharia; sendo que, hoje, é o Diretor Geral da mesma empresa em que eu, Ernani e os nossos colegas trabalhávamos. 

Mauro, hoje aposentado, continua fazendo brincadeiras; entretanto, são de um tipo muito diferente: ele organizou nove grupos de voluntários que distribuem brinquedos para crianças hospitalizadas e as entretêm com jogos, histórias e outros divertimentos.

Às vezes, convivemos por muitos anos com uma pessoa, para só então percebermos que mal a conhecemos. Nunca lhe demos a devida atenção; não demonstramos qualquer interesse pelas coisas dela; ignoramos suas ansiedades ou seus problemas. 


                                                                          (Desconheço a autoria)

Você sabe o que é uma Eminência Parda?

Uma éminence grise (francês para "eminência parda") é um poderoso assessor ou conselheiro que atua "nos bastidores" ou na qualidade não-pública ou não-oficial.
Esta frase referia-se originalmente a François Leclerc du Tremblay,, o "braço direito" do cardeal Richilieu. Leclerc era um frade capuchinho  que ficou famoso por seus trajes bege (a cor bege foi denominada "parda" na época). O título de “Sua Eminência”  é usado para tratar ou referenciar um cardeal da Igreja Católica Romana.  Embora Leclerc nunca alcançasse o posto de cardeal, aqueles ao seu redor se dirigiam a ele como tal, em deferência à influência considerável deste frade "pardo" sobre Sua Eminência, o Cardeal.
Em política, eminência parda é o nome que se dá quando determinado sujeito não é o governante supremo de tal reino ou país mas é o verdadeiro poderoso, agindo muitas vezes por trás do soberano legítimo (a.k.a poder por trás do trono), o qual é uma marionete dele, e pode muito bem ser deposto pela eminência parda caso este não o agrade. A eminência parda ainda pode utilizar qualquer tipo de influência para exercer o seu poder, seja ela militar, econômica, religiosa e/ou política.


Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre – acessado em 29.04.2017

EU TIVE QUE ACEITAR

  
                       Silvia Schmidt



Eu tive que aceitar que o meu corpo nunca fora imortal, que ele envelheceria e que um dia se  acabaria.

Eu tive que aceitar que eu viera ao mundo para fazer algo por ele, para tentar dar-lhe o melhor de mim, deixar rastros positivos da minha passagem e, em dado momento, partir.

Eu tive que aceitar que meus pais não durariam para sempre e que meus filhos, pouco a pouco, escolheriam seus caminhos e prosseguiriam sua caminhada sem mim. 

Eu tive que aceitar que eles não eram meus como eu supunha, e que a liberdade de ir e vir era um direito deles também.

Eu tive que aceitar que todos os meus bens me foram confiados por empréstimo, que não me pertenciam e que eram tão fugazes como fugaz era a minha própria existência na Terra. 

Eu tive que aceitar que eu iria e que os bens ficariam para uso de outras pessoas, quando eu já não estivesse por aqui.

Eu tive que aceitar que varrer minha calçada todos os dias não me dava nenhuma garantia de que ela era propriedade minha e que varrê-la, com tanta constância, era apenas um fútil alimento que eu dava à minha ilusão de posse.

Eu tive que aceitar que o quê eu chamava de "minha casa' era só um teto temporário 
que, dia mais, dia menos, seria o abrigo terreno de uma outra família.

Eu tive que aceitar que o meu apego às coisas só apressaria ainda mais a minha despedida 
e a minha partida.

Eu tive que aceitar que meus animais de estimação, minhas plantas, a árvore que eu plantara, minhas flores e minhas aves eram mortais. Eles não me pertenciam! Foi difícil, mas eu tive que aceitar.

Eu tive que aceitar as minhas fragilidades, os meus limites, a minha condição de ser mortal, de ser atingível, de ser perecível. Eu tive que aceitar para não perecer!

Eu tive que aceitar que a Vida continuaria, com ou sem mim, e que o mundo, em pouco tempo, me esqueceria.

Eu me rendi e aceitei que eu tinha que aceitar. Aceitei para deixar de sofrer, para lançar 
fora o meu orgulho, a minha prepotência, e para voltar à simplicidade da Natureza, que trata a todos da mesma maneira e sem favoritismos.

Humildemente agora lhe confesso que precisei fazer cessar uma guerra dentro de mim.

Eu tive que me desarmar e abrir meus braços para receber e aceitar a minha tão sonhada Paz!

terça-feira, 12 de setembro de 2017

Os filhos e o mundo

Hoje tomei meu café com lágrimas e na minha boca amargava as saudades que sinto da minha mãe. Fiquei pensando em quantas vezes, desde que me tornei mãe, já escutei a frase “não pause sua vida pelos filhos pois eles um dia crescem” ou alguma variação dela, repetida, ainda que não intencionalmente, como uma forma disfarçada de escrutinizar e menosprezar a dedicação materna. Se cria filho pro mundo, todo mundo diz. As asas, as benditas asas. Eu sei, você sabe.
Não pausar a vida. Ideia curiosa essa já que ser mãe é viver eternamente de pausas. Por 9 meses (ou mais) a gente pausa o vinho. Por aproximadamente 40 dias (mas provavelmente bem mais) a gente pausa a vida sexual. Por muitas e muitas noites a gente pausa o sono. A gente pausa a reunião de trabalho, a ligação importante, a promoção. A gente pausa a poupança porque juntar dinheiro fica difícil. A gente pausa as refeições e os banhos. A gente pausa os planos de viagens, as saídas com as amigas, as idas ao cabeleireiro. A gente pausa o coração na preocupação e a gente pausa a própria vida pra respirar a deles.
Criar para o mundo. O que isso seria? Suponho que minha mãe me criou “para o mundo,” sempre me dando asas. Saí de casa aos 14 anos e aos 18 saí do país. Fui conquistar esse mundão para o qual ela me criou. Mas a verdade é que eu nunca deixei de ser dela. Um pedaço dela. Um produto dela. Tão dela que mesmo com mais de 30 anos, eu ainda preciso que ela pause a vida dela por mim. E ela pausa. Passa 2, 3 meses aqui, vivendo minha vida. Ela pausa com a generosidade de quem é acostumada a pausar e doar e amar e amar e amar.
Então eu penso, enquanto tomo meu café com lágrimas e amargo as saudades que sinto da minha mãe, que filhos não são do mundo. Nossos filhos são nossos! Eles vieram da gente e voltam pra gente de novo e de novo. Mesmo estando longe, eles são nossos. Nossos pedaços. Nossos produtos. Os produtos de todas as nossas pausas. Porque é na pausa que fortalecemos o vínculo, é na pausa que construímos as memórias. É no pausar da vida, nesse incessante viver pelo outro, em meio as dores e sacrifícios que, como mulheres, muitas vezes nos vemos plenas; e mais do que isso, nos vemos mães.
(Escrito por Fernanda Marques, autora do @eagoracinderela)