domingo, 14 de julho de 2019

O CAMINHO DE VOLTA


Já estou voltando. Só tenho 37 anos e já estou fazendo o caminho de volta. 

Até o ano passado eu ainda estava indo. Indo morar no apartamento mais alto do prédio mais alto do bairro mais nobre. Indo comprar o carro do ano, a bolsa de marca, a roupa da moda. Claro que para isso, durante o caminho de ida, eu fazia hora extra, fazia serão, fazia dos fins de semana eternas segundas-feiras. 

Até que um dia, meu filho quase chamou a babá de mãe! 
Mas, com quase 40 eu estava chegando lá. 
Onde mesmo? 

No que ninguém conseguiu responder, eu imaginei que quando chegasse lá ia ter uma placa com a palavra FIM. Antes dela, avistei a placa de RETORNO e nela mesmo dei meia volta. 

Comprei uma casa no campo (maneira chique de falar, mas ela é no meio do mato mesmo.) É longe que só a gota serena. Longe do prédio mais alto, do bairro mais chique, do carro mais novo, da hora extra, da babá quase mãe. 

Agora tenho menos dinheiro e mais filho. Menos marca e mais tempo. 

E num é que meus pais (que quando eu morava no bairro nobre me visitaram 4 vezes em quatro anos) agora vêm pra cá todo fim de semana? E meu filho anda de bicicleta e eu rego as plantas e meu marido descobriu que gosta de cozinhar (principalmente quando os ingredientes vêm da horta que ele mesmo plantou). 

Por aqui, quando chove a internet não chega. Fico torcendo que chova, porque é quando meu filho, espontaneamente (por falta do que fazer mesmo) abre um livro e, pasmem, lê. E no que alguém diz “a internet voltou!” já é tarde demais porque o livro já está melhor que o Facebook , o Twitter e o Orkut juntos. 

Aqui se chama ALDEIA e tal qual uma aldeia indígena, vira e mexe eu faço a dança da chuva, o chá com a planta, a rede de cama. 

No São João, assamos milho na fogueira. Nos domingos converso com os vizinhos. Nas segundas vou trabalhar contando as horas para voltar. 

Aí eu lembro da placa RETORNO e acho que nela deveria ter um subtítulo que diz assim: RETORNO – ÚLTIMA CHANCE DE VOCÊ SALVAR SUA VIDA! 

Você provavelmente ainda está indo. Não é culpa sua. É culpa do comercial que disse: “compre um e leve dois”. 

Nós, da banda de cá, esperamos sua visita. Porque sim, mais dia menos dia, você também vai querer fazer o caminho de volta. 

                                                                  ***  
                                                         

Artigo publicado originalmente na coluna do Noblat, no jornal O Globo, em 27 de junho de 2011, escrito por Téta Barbosa Noblat -  jornalista e publicitária (atualmente morando no Recife).

quarta-feira, 10 de julho de 2019

Quando eu estiver velhinha

"Quando eu estiver velhinha, vou morar um pouco com cada filho,
e dar a eles tantas alegrias... Do jeito que eles me deram.
Quero retribuir tudo o que desfrutei deles fazendo as mesmas coisas.
Oh, eles vão adorar!
Escreverei nas paredes com lápis de cores diversas, pularei nos sofás de sapatos e tudo. Beberei das garrafas e as deixarei vazias e fora da geladeira, entupirei de papel os vasos sanitários; como eles ficarão bravos com isso!

(Quando eu estiver velhinha e for morar com meus filhos)...

Quando eles estiverem ao telefone e não puderem me alcançar,
vou aproveitar para brincar com o açúcar ou com a água sanitária.
Eles vão balançar suas cabeças e correr atrás de mim.Mas, eu estarei escondida debaixo da cama.
Quando me chamarem para o jantar que eles prepararam, não vou comer as verduras, as saladas ou a carne, vou engasgar com o quiabo e derramar leite na mesa, e quando se zangarem, corro ― se for capaz!
Sentarei bem perto da TV e vou mudar de canal o tempo todo.
Tirarei as meias pela sala e perderei sempre um pé; e vou brincar na lama até o final do dia.

E mais tarde, à noite, já deitada, vou agradecer a Deus por tudo, fechar meus olhinhos para dormir, e meus filhos vão olhar para mim com um meio sorriso e vão dizer:

― Ela é tão doce quando está dormindo!"



Texto atribuido a Luciana Viter - Professora e especialista em tecnologias na educação -  Cabo Frio/RJ

                                           

quinta-feira, 4 de julho de 2019

O valor do silêncio


“Em muitos momentos da vida o silêncio é a resposta mais sábia que podemos dar a alguém. Por isso, prepare bem a palavra que será dita.

Palavras apressadas não combinam com sabedoria. Os sábios preferem o silêncio. E nos seus poucos dizeres está condensada uma fonte inesgotável de sabedoria.

Não caia na tentação do discurso banal, da explicação simplória.

Queira a profundidade da fala que nos pede calma. Calma para dizer, calma para ouvir. Hoje, neste tempo de palavras muitas, queiramos a beleza dos silêncios poucos.

Não diga as coisas com pressa. Mais vale um silêncio certo, que uma palavra errada. Demore naquilo que você precisa dizer.

Livre-se da pressa de querer dar ordens ao mundo. É mais fácil a gente se arrepender de uma palavra, do que de um silêncio.

Palavra errada, na hora errada, pode se transformar em ferida naquele que disse, e também naquele que ouviu.

Em muitos momentos da vida, o silêncio é a resposta mais sábia que podemos dar a alguém.

O silêncio é a única resposta que devemos dar aos tolos. Porque onde a ignorância fala, a inteligência não dá palpites.”

                                                                 (Padre Fábio de Melo)