quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

Quem deixou meus pais envelhecerem?


O combinado não era eles serem jovens para sempre? 

Meus pais não são velhos. Quer dizer, velho é um conceito relativo. Aos olhos da minha avó são muito moços. Aos olhos dos amigos deles, são normais. Aos olhos das minhas sobrinhas, são muito velhos. Aos meus olhos, estão envelhecendo. Não sei se lentamente, se rápido demais ou se no tempo certo. Mas sempre me causando alguma estranheza. 

Lembro-me de quando minha mãe completou 60 anos. Aquele número me assustou. Os 59 não pareciam muito, mas os 60 pareciam um rolo compressor que se aproximava. Daqui uns anos ela fará seus 70 e eu espero não tomar um susto tão grande dessa vez. Afinal, são apenas números. 

Parece-me que a maior dificuldade é aprendermos a conciliar nosso espírito de filho adulto com o progressivo envelhecimento deles. Estávamos habituados à falsa ideia que reina no peito de toda criança de que eles eram invencíveis. As gripes deles não eram nada, as dores deles não eram nada. As nossas é que eram graves, importantes e urgentes. E de repente o quadro se inverte. 

Começamos a nos preocupar - frequentemente de forma exagerada - com tudo o que diz respeito a eles. A simples tosse deles já nos parece um estranho sintoma de uma doença grave e não uma mera reação à poeira. Alguns passos mais lentos dados por eles já não nos parecem calma, mas sim uma incômoda limitação física. Uma conta não paga no dia do vencimento nos parece fruto de esquecimento e desorganização e não um simples atraso como tantos dos nossos. 

Num dado momento já não sabemos se são eles que estão de fato vivendo as sequelas da velhice que se aproxima ou se somos nós que estamos excessivamente tensos, por começarmos a sentir o indescritível medo da hipótese de perdê-los- mesmo que isso ainda possa levar 30 anos. 

Frequentemente nos irritamos com nossos pais, como se eles não estivessem tendo o comportamento adequado ou como se não se esforçassem o bastante para manterem-se jovens, vigorosos e ativos, como gostaríamos que eles fossem eternamente. De vez em quando esbravejamos e damos broncas neles como se estivéssemos dentro de um espelho invertido da nossa infância. 

Na verdade, imagino eu, nossa fúria não é contra eles. É contra o tempo. O mesmo tempo que cura, ensina e resolve é o tempo que avança como ameaça implacável. A nossa vontade é gritar “Chega, tempo! Já basta! 60 já está bom! 65 no máximo! 70, não mais do que isso! Não avance, não avance mais!”. E, erroneamente, canalizamos nos nossos pais esse inconformismo. 

O fato é que às vezes a lentidão, o esquecimento e as limitações são, de fato, frutos da idade. Outras vezes são apenas frutos da rotina, tão naturais quanto os nossos equívocos. Seja qual for a circunstância, eles nunca merecem ter que lidar com a nossa angústia. Eles já lidaram com os nossos medos todos- de monstros, de palhaços, de abelhas, de escuro, de provas de matemática- ao longo da vida. Eles nos treinaram, nos fortaleceram, nos tornaram adultos. E não é justo que logo agora eles tenham que lidar com as nossas frustrações. Eles merecem que sejamos mais generosos agora. 

Mais paciência e menos irritação. Menos preocupação e mais apoio. Mais companheirismo e menos acusações. Menos neurose e mais realismo. Mais afeto e menos cobranças. Eles só estão envelhecendo. E sabe do que mais? Nós também. E é melhor fazermos isso juntos, da melhor forma.


Escrito por  RUTH MANUS -  Advogada e professora universitária. Lê Drummond, ouve pagode, ama chuchu com bacon e salas de embarque. Dá risada falando de coisa séria. Não perde um XV de Piracicaba contra Penapolense por nada. Sofre de incontinência verbal, tem medo de vaca e de olheiras, que nem todo mundo.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

Rei Morto, Rei Posto


               Dia desses, Paulo precisava ir até a clínica onde havia marcado uma consulta para iniciar seu check-up periódico. Era um dia carregado de afazeres. Ele já havia feito vários adiamentos e não queria protelar mais uma vez. Precisava cuidar da saúde. O horário agendado coincidia com o horário em que o trânsito provoca na cidade uma efervescência louca. O chamado “horário de pico”. Um fato que aflora a impaciência e afeta a sua baixa resistência ao caos provocado pela desordem e falta de organização do trânsito, que é cada vez mais formado por motoristas deseducados, adeptos da “Lei de Gérson”, transgressores deliberados e, por vezes, ignorantes das regras que o regem. Resolveu deixar o carro em casa e ir a pé. 
               Além de uma decisão fisicamente saudável, era também ecológica e financeira, haja vista que evitava despejar uma parcela, ainda que ínfima, de gás carbônico na natureza, economizava combustível (e, consequentemente, alguns trocados). Sem citar que o pedestrianismo não envolvia nenhuma dificuldade técnica, sendo uma atividade simultaneamente relaxante e agradável, e “muito recomendada para quem, como ele, já estava no segundo degrau da fase do ‘enta’”. Foi como disseram seus colegas de trabalho, quando comentou com eles tal decisão.                
               O trecho a percorrer era em torno de três quilômetros, e, vendo as pessoas encapsuladas num veículo, sem esquecer que ele diariamente fazia parte desse contingente, raciocinou que elas faziam este percurso muito mais por comodismo (ou inconsciência sedentária) que por necessidade, fato que os privavam de algumas descobertas, curiosidades e certos deslumbramentos paisagísticos, só possíveis na caminhada, como ele vinha constatando.  
                  Logo no primeiro quarteirão, cometeu um abuso: acelerou o passo para economizar alguns segundos na travessia de uma rua, num cruzamento cujo semáforo estava na iminência de fechar, mas não deu tempo. A situação exigia uma demanda física que o seu corpo não conseguia atender. Quase foi atropelado. Chegou ao destino. Conferiu o relógio e calculou o tempo da caminhada: em torno de 25 minutos. Feito os procedimentos de identificação, como é de praxe nos consultórios, sentou-se e começou a folhear algumas dessas revistas que os consultórios colocam para entreter os pacientes e lhes aliviar a espera, até serem chamados para o atendimento.  
             A pressão arterial não estava normal, e a frequência cardíaca estava fora dos parâmetros previstos para a sua faixa etária. Ficou preocupado. Não imaginou que estaria muito discrepante das medições feitas nas consultas anteriores.  
                Conversou com o médico sobre a sua façanha de, naquele dia, ter trocado os pedais do carro por um par de tênis e do percurso feito a pé, e o médico aproveitou para ressaltar e apregoar os inúmeros benefícios para a saúde que tal troca proporciona: melhoria da circulação da pressão sanguínea, da frequência cardíaca, além de elevar a autoestima e evitar a depressão (já que a atividade aumenta a produção de serotonina e traz a sensação de bem estar). Dito isso, desafiou-o a fazer uma caminhada de vinte minutos, pelos próximos 30 dias e por, no mínimo, 3 vezes por semana. Fazendo isso, ele passaria da categoria de “inativo” para “moderadamente inativo”. Condição que diminui em torno de 16% a 30% o risco de mortes prematuras. Dados estatisticamente comprovados por pesquisas realizadas por entidades especializadas. Saiu do consultório com o firme propósito de mudar. Em casa, marcou no calendário algumas metas a alcançar, inclusive, a data de retorno ao consultório. 
                   Infelizmente, Paulo não voltou ao consultório na data marcada para prestar contas do seu compromisso com o seu cardiologista. As atribuições e atribulações profissionais o levaram de volta ao universo do sedentarismo. Sem controle de horário para as refeições, sem uma alimentação saudável, sem disciplina no cuidado com sua saúde e sem dar atenção às vozes do seu corpo, sofreu um infarto fulminante na empresa durante uma reunião de negócios. 
              Nas palavras do seu médico, Paulo “passou a engrossar as estatísticas das mortes por sedentarismo, que, no Brasil, perdem apenas para diabetes, tabagismo e hipertensão, fatores de riscos aos quais também estava exposto”.      
                   Quinze dias depois, a empresa apresentou o profissional que iria preencher sua vaga. Rei Morto, Rei Posto. Esse é o mundo corporativo. Dentre os pertences encontrados em uma das gavetas de sua mesa, um livro de autoajuda, presente da esposa, por ocasião do seu último aniversário, com uma dedicatória em forma de desabafo: “Nenhuma flor sobrevive se não souber cultivála”, e, em sequência, uma recomendação e um alerta: “... que você não perca a vida tentando ganhá-la”. Pareceu premonição. Numa outra gaveta, um porta-retratos com fotos do filho caçula, a quem prometera levar à Disney quando completasse dez anos (e não cumpriu). Numa pequena estante ao lado, um troféu conquistado pela excelência no desempenho da função, certamente trocado por sua saúde, por momentos significantes de sua vida pessoal, pela sua felicidade e por algum dinheiro na poupança, que não deu tempo de gastar. 
                 Na missa de 30º dia, reencontrei alguns dos amigos em comum, e um deles lembrou uma frase citada por Paulo num evento de premiação, ao receber um certificado de “honra ao mérito” pelo cumprimento das metas do trimestre anterior: “Tem coisas na vida que não têm preço...”, mas ele esqueceu que a frase estava ncompleta: “... mas muitas têm troco”, e consequências fatais!     


Do Livro: O Cio do Ócio - Contos & Crônicas / Adenildo Aquino - Pág. 57 - São Paulo, Editora Biblioteca 24Horas, 1ª Edição – setembro de 2019       



Gratidão X Ingratidão

Um famoso escritor estava em sua sala de estudo. Pegou a caneta e começou a escrever:

No ano passado precisei fazer uma cirurgia para a retirada da vesícula biliar. Tive que ficar de cama por um bom tempo.

Nesse mesmo ano, cheguei a idade de 60 anos e tive que renunciar ao meu trabalho favorito. Havia permanecido 30 anos naquele editorial.

No mesmo ano, experimentei a dor pela morte de meu pai e meu filho fracassou em seu exame médico porque  teve um acidente  de automóvel e ficou hospitalizado por vários dias. A destruição do carro foi outra perda.

Ao final escreveu:
“FOI UM ANO MUITO MAL!”

Quando a esposa do escritor entrou na sala, o encontrou triste em meio aos seus pensamentos. Por trás dele, leu o que estava escrito no papel.

Saiu da sala em silêncio e voltou com outro papel que colocou ao lado do papel de seu marido.  

Quando o escritor viu o papel, encontrou escrito o seguinte:

No ano passado finalmente me desfiz de minha vesícula biliar, depois de passar anos com dor.

Completei 60 anos com boa saúde e me retirei do meu trabalho. Agora posso utilizar meu tempo para escrever com maior paz e tranquilidade. 

No mesmo ano, meu pai, com a idade de 95 anos, sem depender de nada e sem nenhuma condição crítica, conheceu seu Criador.

Meu carro foi destruído, mas meu filho ficou vivo sem nenhuma sequela. 

Ao final, ela escreveu:
“ESSE ANO FOI UMA GRANDE BENÇÃO!”

Eram os mesmos acontecimentos, mas com pontos de vista diferentes.  
Se refletimos bem, temos inúmeras razões para ser gratos a Deus.  
Não é a FELICIDADE   que nos torna GRATOS,  mas, sim,
a GRATIDÃO  que nos faz FELIZES!
Sempre há algo para agradecer! Você escolhe como escrever sua história!

                                                                      (Desconheço a autoria)

terça-feira, 12 de novembro de 2019

Por que as pessoas sofrem?




— Vó, por que as pessoas sofrem?
— Como é, minha neta?
— Por que as pessoas grandes vivem bravas, irritadas, sempre preocupadas com alguma coisa?
— Bem, minha filha, muitas vezes porque elas foram ensinadas a viver assim.
—Vó...
—Oi...
— Como é que as pessoas podem ser ensinadas a viver mal? Não consigo entender. Na minha escola a professora só me ensina coisas boas.
— É que elas não percebem que foram convencidas a ser infelizes, e não conseguem mudar o que as torna assim. Você não está entendendo, não é, meu  amor?
—Não, Vovó.
— Você lembra da estorinha do Patinho Feio?
— Lembro.
— Então... o Patinho se considerava feio porque era diferente. Isso o deixava muito infeliz e perturbado. Tão infeliz, que um dia resolveu ir embora e viver sozinho. Só que o lago que ele procurou para nadar havia congelado e estava muito frio. Quando ele olhou para o seu reflexo no lago, percebeu que ele era, na verdade, um maravilhoso cisne. E, assim, se juntou aos seus iguais e viveu feliz para sempre.
— O que isso tem a ver com a tristeza das pessoas?
— Bem, quando nascemos, somos separados de nossa Natureza-cisne.
Ficamos, como patinhos, tentando aceitar o que os outros dizem que está certo. Então, passamos muito tempo tentando virar patos.
— É por isso que as pessoas grandes estão sempre irritadas?
— É por isso! Viu como você é esperta?
— Então, é só a gente perceber que é cisne que tudo dará certo?
— Na verdade, minha filha, encontrar o nosso verdadeiro espelho não é tão fácil assim. Você lembra o que o "cisnezinho" precisava fazer para poder se enxergar?
—O quê?
— Ele primeiro precisou parar de tentar ser um pato. Isso significa parar de tentar ser quem a gente não é. Depois, ele aceitou ficar um tempo sozinho para se encontrar.
— Por isso ele passou muito frio, não é, vovó?
— Passou frio, fome e ficou sozinho no inverno.
— É por isso que o papai anda tão sozinho e bravo?
— Não entendi, minha filha?
— Meu pai está sempre bravo, sempre quieto com a música e a televisão dele. Outro dia ele estava chorando no banheiro... 
— Vó, o papai é um cisne que pensa que é um pato?
— Todos nós somos, querida. Em parte.
— Ele vai descobrir quem ele é de verdade?
— Vai, minha filha, vai. Mas, quando estamos no inverno, não podemos desistir, nem esperar que o espelho venha até nós. Temos que exercer a humildade e procurar ajuda até encontrarmos.
— E aí viramos cisnes?
— Nós já somos cisnes. Apenas temos que deixar que o cisne venha para fora e tenha espaço para viver e para se manifestar.
— Aonde você vai?
— Vou contar para o papai o cisne bonito que ele é!
A boa vovó apenas sorriu!


                                                                                (Desconheço a autoria)

Não canse quem te quer bem



Foi durante o programa Saia Justa que a atriz Camila Morgado, discutindo sobre a chatice dos outros (e a nossa própria), lançou a frase: “Não canse quem te quer bem”. Diz ela que ouviu isso em algum lugar, mas enquanto não consegue lembrar a fonte, dou a ela a posse provisória desse achado. 

Não canse quem te quer bem. Ah, se conseguíssemos manter sob controle nosso ímpeto de apoquentar. Mas não. Uns mais, outros menos, todos passam do limite na arte de encher os tubos. Ou contando uma história que não acaba nunca, ou pior: contando uma história que não acaba nunca cujos protagonistas ninguém jamais ouviu falar. Deveria ser crime inafiançável ficar contando longos casos sobre gente que não conhecemos e por quem não temos o menor interesse. Se for história de doença, então, cadeira elétrica. 

Não canse quem te quer bem. Evite repetir sempre a mesma queixa. Desabafar com amigos, ok. Pedir conselho, ok também, é uma demonstração de carinho e confiança. Agora, ficar anos alugando os ouvidos alheios com as mesmas reclamações, dá licença. Troque o disco. Seus amigos gostam tanto de você, merecem saber que você é capaz de diversificar suas lamúrias. 

Não canse quem te quer bem. Garçons foram treinados para te querer bem. Então não peça para trocar todos os ingredientes do risoto que você solicitou – escolha uma pizza e fim. 

Seu namorado te quer muito bem. Não o obrigue a esperar pelos 20 vestidos que você vai experimentar antes de sair – pense antes no que vai usar. E discutir a relação, só uma vez por ano, se não houver outra saída. 

Sua namorada também te quer muito bem. Não a amole pedindo para ela explicar de onde conhece aquele rapaz que cumprimentou na saída do cinema. Ciúme toda hora, por qualquer bobagem, é esgotante. 

Não canse quem te quer bem. Não peça dinheiro emprestado pra quem vai ficar constrangido em negar. Não exija uma dedicatória especial só porque você é parente do autor do livro. E não exagere ao mostrar fotografias. Se o local que você visitou é realmente incrível, mostre três, quatro no máximo. Na verdade, fotografia a gente só mostra pra mãe e para aqueles que também aparecem na foto. 

Não canse quem te quer bem. Não faça seus filhos demonstrarem dotes artísticos (cantar, dançar, tocar violão) na frente das visitas. Por amor a eles e pelas visitas. 

Implicâncias quase sempre são demonstrações de afeto. Você não implica com quem te esnoba, apenas com quem possui laços fraternos. Se um amigo é barrigudo, será sobre a barriga dele que faremos piada. Se temos uma amiga que sempre chega atrasada, o atraso dela será brindado com sarcasmo. Se nosso filho é cabeludo, “quando é que tu vai cortar esse cabelo, garoto?” será a pergunta que faremos de segunda a domingo. Implicar é uma maneira de confirmar a intimidade. Mas os íntimos poderiam se elogiar, pra variar. 

Não canse quem te quer bem. Se não consegue resistir a dar uma chateada, seja mala com pessoas que não te conhecem. Só esses poderão se afastar, cortar o assunto, te dar um chega pra lá. Quem te quer bem vai te ouvir até o fim e ainda vai fazer de conta que está se divertindo. Coitado. Prive‐o desse infortúnio. Ele não tem culpa de gostar de você. 

                                                          (Martha Medeiros – Zero Hora – 22 de janeiro de 2012.)

Minha vida maravilhosa ( Direito de Envelhecer)



Enquanto fui envelhecendo, tornei-me mais amável para mim, e menos crítica de mim mesmo. Eu me tornei minha própria amiga. Eu não me censuro por comer biscoito extra, ou por não fazer a minha cama, ou para a compra de algo bobo que eu não precisava, como uma escultura de cimento, mas que parece tão “avant garde” no meu pátio. Eu tenho direito de ser desarrumada, de ser extravagante. 

Vi muitos amigos queridos deixarem este mundo cedo demais, antes de compreenderem a grande liberdade que vem com o envelhecimento. 
Quem vai me censurar se resolvo ficar lendo ou jogar no computador até as quatro horas e dormir até meio-dia? Eu Dancei ao som daqueles sucessos maravilhosos dos anos 60 &70, e se eu, ao mesmo tempo, desejo chorar por um amor perdido .... eu vou. 

Vou andar na praia em um maiô excessivamente esticado sobre um corpo decadente, e mergulhar nas ondas com abandono, se eu quiser, apesar dos olhares penalizados dos outros no jet set. Eles, também, vão envelhecer. 

Eu sei que às vezes esqueço algumas coisas. Mas há mais algumas coisas na vida que devem ser esquecidas. Eu me recordo das coisas importantes. 
Claro, ao longo dos anos meu coração foi quebrado. Como não pode quebrar seu coração quando você perde um ente querido, ou quando uma criança sofre, ou mesmo quando algum amado animal de estimação é atropelado por um carro? Mas corações partidos são os que nos dão força, compreensão e compaixão. Um coração que nunca sofreu é imaculado e estéril e nunca conhecerá a alegria de ser imperfeito. 

Eu sou tão abençoada por ter vivido o suficiente para ter meus cabelos grisalhos, e ter os risos da juventude gravados para sempre em sulcos profundos em meu rosto. Muitos nunca riram, muitos morreram antes de seus cabelos virarem prata. 
Conforme você envelhece, é mais fácil ser positivo. Você se preocupa menos com o que os outros pensam. Eu não me questiono mais. 

Eu ganhei o direito de estar errado. Assim, para responder sua pergunta, eu gosto de ser idosa. A idade me libertou. Eu gosto da pessoa que me tornei. Eu não vou viver para sempre, mas enquanto eu ainda estou aqui, eu não vou perder tempo lamentando o que poderia ter sido, ou me preocupar com o que será. E eu vou comer sobremesa todos os dias, se me apetecer. 
Que nossa amizade nunca se separe porque é direto do coração!


                                                                             ( Desconheço a autoria)

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Réquiem sem Dó Maior

           Os anos se passaram numa velocidade avassaladora. E o tempo, sempre impiedoso, foi devastador com a matéria. Restaram os espíritos que hoje vagam como zumbis no desencantado mundo dos amantes arrependidos ou adormecidos nas florestas dos sonhadores, como lagartas que se recusam a eclodir dos seus casulos e virar borboletas à espera de que o destino se encarregue de traçar- lhes um plano de voo duplo. Onde foram guardados os sonhos azuis e corde-rosa que tingiam o desabrochar da adolescência? Perderam-se nas curvas de um caminho pavimentado com desejos que se descobriram inatingíveis ou colidiram com as intempéries da paisagem escura e intempestiva por onde transitavam as ambições dos amantes inconsequentes. Certamente, não resistiram aos ditames levianos de uma corte sem legitimidade para julgar pecados cordiais e sucumbiram aos incentivos maledicentes de uma plateia sem reputação.

O futuro não chegou rápido, mas dosou com parcimônia a fração exata dos dividendos de culpa que cabia a cada um. Arrependimentos tardios nem sempre têm o condão de resgatar sentimentos represados, assim como lamentos não curam feridas e nem apagam cicatrizes. Preces ou promessas não reconstituem ou alteram trajetórias opostas, não dissipam mágoas e nem restauram fissuras da alma. De uma cascata de saudades por onde jorrou toda a seiva extraída dos lábios ressecados, ouve-se uma permanente sinfonia que desperta os amanheceres de frustrações, embala os crepúsculos de uma ilusão sem fim e se constitui num réquiem para celebrar o ocaso de uma história de enredo torto, sem protagonista ou coadjuvante a legitimar o funeral de um amor morto que permanece insepulto e sem chances de ressuscitar.


Do Livro: O Cio do Ócio - Contos & Crônicas / Adenildo Aquino - Pág. 43 - São Paulo, Editora Biblioteca 24Horas, 1ª Edição – setembro de 2019

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Diferença entre Professor e Educador

Um professor encontra um rapaz que diz que foi aluno dele.

E aí o cara pergunta: lembra de mim? E ele diz que não. Aí o cara conta que foi aluno dele. E ele pergunta: o que andas fazendo? Sou professor.

Ah que legal. Como eu? Sim. Virei professor porque você me inspirou... Aí ele pergunta para o cara qual foi o momento em que ele o inspirou a ser professor. E aí o aluno conta a história:

“Um dia um amigo meu, estudante também, chegou com um relógio novo, lindo, e eu decidi que o queria pra mim e o roubei, peguei do bolso dele. Aí este meu amigo percebeu o roubo e reclamou com você (professor). Ai você disse: o relógio do colega de vocês foi roubado, quem roubou devolva. Não devolvi porque não queria. Aí você trancou a porta, falou pra todo mundo ficar em pé que você passaria de um por um para revistar os bolsos de todos até achar o relógio. Mas você falou para todos fecharem os olhos que você faria isso com os alunos de olhos fechados. Todos fecharam os olhos e você foi indo de bolso em bolso e quando chegou no meu encontrou o relógio e o pegou. Continuou revistando todos e aí quando terminou disse: podem abrir os olhos. Já temos o relógio.


Você não me disse nada. Não mencionou o episódio nunca. Não falou quem tinha roubado pra ninguém. E naquele dia você salvou a minha dignidade para sempre.
Foi o dia mais vergonhoso da minha vida. Mas o dia em que minha dignidade foi salva de eu não ter me tornado um ladrão, uma má pessoa, etc...


Você nunca falou nada. Não me deu lição de moral. E eu entendi a mensagem
E entendi que é isso que um verdadeiro educador deve fazer.
Você não lembra disso professor?

E o professor responde: eu lembro da situação, do relógio roubado, de eu ter revistado todos etc.
Mas não lembrava de você, porque eu também fechei meus olhos ao revistar todos vocês".

“Professor é profissão. Educador é missão” Esta é a grande diferença!

                                         (Recebi pelo WhatsApp sem identificação da autoria )

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

" Há alguém mais rico do que você no mundo?"

Alguém perguntou ao homem mais rico do mundo, Bill Gates: " há alguém mais rico do que você no mundo?"

Bill Gates respondeu: "Sim, há uma pessoa que é mais rica do que eu".
Depois contou uma história.

Foi durante o tempo em que eu não era rico nem famoso. Eu estava no aeroporto de Nova York quando vi um vendedor de jornais. Eu queria comprar um jornal, e ao tê-lo nas minhas mãos descobri que não tinha moedas suficientes. Então, deixei de lado a ideia de comprar e devolvi o jornal ao vendedor. Eu disse-lhe que não tinha a moedas.
O vendedor disse: "eu estou te dando isso de graça".
Diante da sua insistência, levei o jornal.

Casualmente, depois de 2 a 3 MESES, aterrizei no mesmo aeroporto e novamente me faltavam moedas para comprar um jornal. O vendedor ofereceu-me o jornal de graça novamente. Eu recusei e disse-lhe que não podia aceitá-lo porque nessa ocasião também não tinha nenhum tostão.

Ele disse: "você pode levá-lo, estou compartilhando isso dos meus ganhos, não estarei perdendo". peguei o jornal.

Depois de 19 anos eu me tornei famoso e conhecido pelas pessoas. De repente, lembrei-me desse vendedor. Comecei a procurá-lo e depois de aproximadamente 1 mês e meio de busca eu encontrei.

Eu perguntei a ele: " você me conhece?"
Ele disse: "Sim, você é Bill Gates".
Perguntei-lhe de novo: " Lembra-te uma vez que me deste o jornal grátis?"
O vendedor disse: "Sim, eu lembro-me, te dei duas vezes".
Eu disse-lhe :" eu quero pagar a ajuda que você me deu essas duas vezes. O que você quiser na sua vida, diga-me, eu dou ".
O vendedor disse: " Senhor Bill Gates, acredite que ao fazer isso não poderá igualar a minha ajuda?"
Eu perguntei por quê?"
Ele disse: " Eu te ajudei quando eu era um pobre vendedor de jornais e agora você está tentando me ajudar quando você se tornou o homem mais rico do mundo.

Como pode sua ajuda igualar a minha?"

Nesse dia, percebi que o vendedor de jornais era mais rico do que eu, porque ele não esperou se tornar rico para ajudar alguém.

As pessoas precisam entender que os verdadeiramente ricos são aqueles que possuem um coração rico, em vez de muito dinheiro. É realmente importante ter um coração rico para ajudar os outros.

É muito fácil dar quando nos sobra, o difícil é presentear, ainda sem ter muito para dar.
Pratique a caridade.

sexta-feira, 4 de outubro de 2019

A vida

“A vida decepciona-o para você parar de viver com ilusões e ver a realidade.
A vida destrói todo o supérfluo até que reste somente o importante.
A vida não te deixa em paz, para que deixe de culpar-se e aceite tudo como “É”.
A vida vai retirar o que você tem, até você parar de reclamar e começar agradecer.
A vida envia pessoas conflitantes para te curar, pra você deixar de olhar para fora e começar a refletir o que você é por dentro.
A vida permite que você caia de novo e de novo, até que você decida aprender a lição.
A vida lhe tira do caminho e lhe apresenta encruzilhadas, até que você pare de querer controlar tudo e flua como um rio.
A vida coloca seus inimigos na estrada, até que você pare de “reagir”.
A vida te assusta e assustará quantas vezes for necessário, até que você perca o medo e recupere sua fé.
A vida tira o seu amor verdadeiro, ele não concede ou permite, até que você pare de tentar comprá-lo.
A vida lhe distancia das pessoas que você ama, até entender que não somos esse corpo, mas a alma que ele contém.
A vida ri de você muitas e muitas vezes, até você parar de levar tudo tão a sério e rir de si mesmo.
A vida quebra você em tantas partes quantas forem necessárias para a luz penetrar em ti.
A vida confronta você com rebeldes, até que você pare de tentar controlar.
A vida repete a mesma mensagem, se for preciso com gritos e tapas, até você finalmente ouvir.
A vida envia raios e tempestades, para acordá-lo.
A vida o humilha e por vezes o derrota de novo e de novo até que você decida deixar seu ego morrer.
A vida lhe nega bens e grandeza até que pare de querer bens e grandeza e comece a servir.
A vida corta suas asas e poda suas raízes, até que não precise de asas nem raízes, mas apenas desapareça nas formas e seu ser voe.
A vida lhe nega milagres, até que entenda que tudo é um milagre.
A vida encurta seu tempo, para você se apressar em aprender a viver.
A vida te ridiculariza até você se tornar nada, ninguém, para então tornar-se tudo.
A vida não te dá o que você quer, mas o que você precisa para evoluir.
A vida te machuca e te atormenta até que você solte seus caprichos e birras e aprecie a respiração.
A vida te esconde tesouros até que você aprenda a sair para a vida e buscá-los.
A vida te nega Deus, até você vê-lo em todos e em tudo.
A vida te acorda, te poda, te quebra, te desaponta… Mas creia, isso é para que seu melhor se manifeste… até que só o AMOR permaneça em ti”


Texto de Bert Hellinger, Alemão, ex padre, psicoterapeuta, escritor, pensador e pesquisador.


terça-feira, 10 de setembro de 2019

Casa de mãe

Casa de mãe depois que os filhos se vão é um oratório. Amanhece e anoitece, prece. Já não temos acesso àquelas coisinhas básicas do dia a dia, as recomendações e perguntas que tanto a eles desagradavam e enfureciam: com quem vai, onde é, a que horas começa, a que horas termina, a que horas você chega, vem cá menina, pega a blusa de frio, cadê os documentos, filho.

Impossibilitados os avisos e recomendações, só nos resta a oração, daí tropeçamos todos os dias em nossos santos e santas de preferência, e nossa devoção levanta as mãos já no café da manhã e se deita conosco.

Casa de mãe depois que os filhos se vão é lugar de silêncio, falta nela a conversa, a risada, a implicância, a displicência, a desorganização. Falta panela suja, copos nos quartos, luzes acesas sem necessidade…

Aliás, casa de mãe, depois que os filhos se vão, vive acesa. É um iluminado protesto a tanta ausência.

Casa de mãe depois que os filhos se vão tem sempre o mesmo cheiro. Falta-lhe o perfume que eles passam e deixam antes da balada, falta cheiro de shampoo derramado no banheiro, falta a embriaguez de alho fritando para refogar arroz, falta aroma da cebola que a gente pica escondido porque um deles não gosta ( mas como fazer aquele prato sem colocá-la?), falta a cara boa raspando o prato, o “isso tá bão, mãe”. O melhor agradecimento é um prato vazio, quando os filhos ainda estão. Agora, falta cozinha cheia de desejos atendidos.

Casa de mãe depois que os filhos se vão é um recorte no tempo, é um rasgo na alma. É quarto demais, e gente de menos.

É retrato de um tempo em que a gente vivia distraída da alegria abundante deles. Um tempo de maturar frutos, para dá-los a colher ao mundo. Até que esse dia chega, e lá se vai seu fruto ganhar estrada, descobrir seus rumos, navegar por conta própria com as mãos no leme que você , um dia, lhe mostrou como manejar.

Aí fica a casa e, nela, as coisas que eles não levam de jeito nenhum para a nova vida, mas também não as dispensam: o caminhão da infância, a boneca na porta do quarto, os livros, discos, papéis e desenhos e fotografias – todas te olhando em estranha provocação.

Casa de mãe depois que os filhos se vão não é mais casa de mãe. É a casa da mãe. Para onde eles voltam num feriado, em um final de semana, num pedaço de férias.

Casa de mãe depois que os filhos se vão é um grande portão esperando ser aberto. É corredor solitário aguardando que eles o atravessem rumo aos quartos. É área de serviço sem serviço.

Casa de mãe depois que os filhos se vão tem sempre alguém rezando, um cachorrinho esperando, e muitos dias, todos enfileirados, obedientes e esperançosos da certeza de qualquer dia eles chegam e você vai agradecer por todas as suas preces terem sido atendidas.

Por que, vamos combinar, não é que você fez direitinho seu trabalho, e estava certo quem disse que quem sai aos seus não degenera e aqueles frutos não caíram longe do pé?

E saudade, afinal, não é mesmo uma casa que se chama mãe?


                                                                                          (Texto de Miryan Lucy  Rezende)

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

O Alzheimer, descrito por um paciente*

Sou médico aposentado e professor de medicina . E tenho Alzheimer. Antes do meu diagnóstico, estava familiarizado com a doença, tratando pacientes com Alzheimer durante anos . Mas demorei para suspeitar da minha própria aflição.
Hoje, sabendo que tenho a doença, consegui determinar quando ela começou, há 10 anos, quando estava com 76 . 
Eu presidia um programa mensal de palestras sobre ética médica e conhecia a maior parte dos oradores. Mas, de repente, precisei recorrer ao material que já estava preparado para fazer as apresentações. Comecei então a esquecer nomes, mas nunca as fisionomias. Esses lapsos são comuns em pessoas idosas, de modo que não me preocupei.
Nos anos seguintes, submeti-me a uma cirurgia das coronárias e mais tarde tive dois pequenos derrames cerebrais. Meu neurologista atribuiu os meus problemas a esses derrames, mas minha mente continuou a deteriorar. O golpe final foi há um ano, quando estava recebendo uma menção honrosa no hospital onde trabalhava. Levantei-me para agradecer e não consegui dizer uma palavra sequer. Minha mulher insistiu para eu consultar um médico . Meu clínico-geral realizou uma série de testes de memória em seu consultório e pediu depois uma tomografia PET que diagnostica a doença com 95% de precisão.
Comecei a ser medicado com Aricept que tem muitos efeitos colaterais. Eu me ressenti de dois deles: diarreia e perda de apetite. Meu médico insistiu para eu continuar. Os efeitos colaterais desapareceram e comecei a tomar mais um medicamento, Namenda. Esses remédios, em muitos pacientes, não surtem nenhum efeito. Fui um dos raros felizardos.
Em dois meses, senti-me muito melhor e hoje quase voltei ao normal . Demoramos muito tempo para compreender essa doença desde que Alois Alzheimer, médico alemão, estabeleceu os primeiros elos, no início do século 20, entre a demência e a presença de placas e emaranhados de material desconhecido .
Hoje sabemos que esse material é o acúmulo de uma proteína chamada beta-amilóide. A hipótese principal para o mecanismo da doença de Alzheimer é que essa proteína se acumula nas células do cérebro, provocando uma degeneração dos neurônios . Hoje, há alguns produtos farmacêuticos para limpar essa proteína das células .
No entanto, as placas de amilóide podem ser detectadas apenas numa autópsia, de modo que são associadas apenas com pessoas que desenvolveram plenamente a doença. Não sabemos se esses são os primeiros indicadores biológicos da doença . Mas há muitas coisas que aprendemos.
A partir da minha melhora, passei a fazer uma lista de insights que gostaria de compartilhar com outras pessoas que enfrentam problemas de memória: · Tenha sempre consigo um caderninho de notas e escreva o que deseja lembrar mais tarde. · Quando não conseguir lembrar de um nome, peça para que a pessoa o repita e então escreva . ·
Leia livros. Faça caminhadas. Dedique-se ao desenho e à pintura. · Pratique jardinagem. Faça quebra-cabeças e jogos. · Experimente coisas novas. Organize o seu dia. · Adote uma dieta saudável, que inclua peixe duas vezes por semana, frutas e legumes e vegetais, ácidos graxos ômega 3. · Não se afaste dos amigos e da sua família. É um conselho que aprendi a duras penas. Temendo que as pessoas se apiedassem de mim, procurei manter a minha doença em segredo e isso significou me afastar das pessoas que eu amava.
Mas agora me sinto gratificado ao ver como as pessoas são tolerantes e como desejam ajudar . A doença afeta 1 a cada 8 pessoas com mais de 65 anos e quase a metade dos que têm mais de 85. A previsão é de que o número de pessoas com Alzheimer dobre até 2030. Sei que, como qualquer outro ser humano, um dia vou morrer.
Assim, certifiquei- me dos documentos que necessitava examinar e assinar enquanto ainda estou capaz e desperto, coisas como deixar recomendações por escrito ou uma ordem para desligar os aparelhos quando não houver chance de recuperação. Procurei assegurar que aqueles que amo saibam dos meus desejos. Quando não souber mais quem sou, não reconhecer mais as pessoas ou estiver incapacitado, sem nenhuma chance de melhora, quero apenas consolo e cuidados paliativos.


(*Arthur Rivin Clínico-Geral e Professor emérito da Universidade da Califórnia)

Tributo ao Tempo



Tudo o que vive não vive sozinho, nem pra si mesmo. Dizem que a vida é curta, mas não é verdade. A vida é longa para quem consegue viver pequenas felicidades.

E essa tal felicidade anda por aí, disfarçada, como uma criança traquina brincando de esconde-esconde.

Infelizmente às vezes não percebemos isso e passamos nossa existência colecionando nãos: a viagem que não fizemos, o presente que não demos, a festa que não fomos, o amor que não vivemos, o perfume que não sentimos.

A vida é mais emocionante quando se é ator e não espectador; quando se é piloto e não passageiro, pássaro e não paisagem, cavaleiro e não montaria.

E como ela é feita de instantes, não pode nem deve ser medida em anos ou meses, mas em minutos e segundos. Esta mensagem é um tributo ao tempo.

Tanto àquele tempo que você soube aproveitar no passado quanto àquele tempo que você não vai desperdiçar no futuro. Porque a vida é agora. Não tenha medo do futuro, apenas lute e se esforce ao máximo para que ele seja do jeito que você sempre desejou.

A morte não é a maior perda da vida. A maior perda da vida é o que morre dentro de nós enquanto vivemos.



Obs, Recebi este texto no meu WhatsApp sem identificação da fonte. Fui pesquisar na Internet e o encontrei com identificação da autoria sendo tanto do Dalai Lama como de Norman Cuisins.


quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Quando me tornei invisível


Já não sei em que datas estamos, nesta casa não há folhinhas, e na minha memória tudo está revolto. As coisas antigas foram desaparecendo.E eu também fui apagando sem que ninguém se desse conta.

Primeiro eles mudaram meu quarto porque a família cresceu, então me passaram para um menor ainda acompanhado pelos meus bisnetos, agora eu ocupo o sótão, o do quintal, eles prometeram trocar o vidro quebrado da janela, mas eles esqueceram-se e todas as noites há um ar gelado que aumenta minha dor reumática.

Por muito tempo tive intenções de escrever, mas passei semanas procurando um lápis e quando finalmente encontrei, eu mesmo esqueci onde eu coloquei, Aaah! Na minha idade, as coisas se perdem facilmente.

Na outra tarde, percebi que minha voz também havia desaparecido, quando falo com meus netos ou com meus filhos, eles não me respondem, mas não me ouvem, não olham para mim, não me respondem ...

Então, cheio de tristeza, me retiro para o meu quarto antes de terminar de tomar a xícara de café, faço assim, de repente, para que entendam que estou com raiva, para que percebam que me ofenderam e vieram me procurar e pedir perdão . mmmh! Mas ninguém vem.

Outro dia eu disse a eles que quando eu morresse eles iriam sentir minha falta, e o neto mais novo disse ... ah! e pouco a pouco você está vivo vovó !!!!!!!

Eles acharam tão engraçado que não pararam de rir, três dias eu estava chorando no meu quarto até que uma manhã um dos meninos entrou para pegar alguns pneus velhos e, psst, nem mesmo o bom dia que ele me deu, foi quando me convenci que sou invisível.

Eu fico no meio da sala para ver se mesmo que seja um obstáculo, eles olham para mim, mas minha filha continua varrendo sem me tocar, as crianças correm ao meu redor de um lado para o outro sem tropeçar em mim.

Quando meu genro adoeceu, tive a oportunidade de ser útil para ele, trouxe-lhe um chá especial que preparei para mim, coloquei na mesa e sentei para esperar que fosse tirado, só que eu estava vendo televisão e nem pisquei quem percebeu minha presença, chá, gradualmente esfriando e meu coração também.

Numa sexta-feira, as crianças começaram a brigar e vieram me dizer que no dia seguinte todos nós iríamos fazer um piquenique, e fiquei muito feliz, fazia tanto tempo desde que saíra e menos para o campo.

No sábado fui o primeiro a levantar, queria consertar as coisas com calma ... ah!

Os mais velhos levaram muito tempo para fazer qualquer coisa, então eu demorei para não atrasá-los, depois de um tempo eles entraram e saíram da casa correndo e jogaram as bolsas e os brinquedos no carro, eu estava pronta e muito feliz esperando por eles na porta ...


Quando eles começaram e o carro desapareceu envolto em agitação, eu entendi que não fui convidado, talvez porque não se encaixasse no carro ou porque meus passos devidos impediriam que todo mundo corresse pela floresta, me senti clara, clara, como meu coração encolheu, meu queixo tremia como quando você não aguenta chorar.

Antes até beijei os pequeninos, foi um enorme prazer que ele me deu para tê-los em meus braços como se fossem meus, senti sua pele macia e sua respiração doce, muito perto de mim, a nova vida entrou em mim como uma respiração e até eu não queria cantar canções de ninar que nunca pensei ter me lembrado, mas um dia, minha neta Lucy, que acabara de ter um bebê, disse que não era bom para os idosos beijar crianças por motivos de higiene, não me aproximei, não. Se algo de ruim aconteceu com eles por causa da minha imprudência, tenho tanto medo de contradizê-los!

Espero que amanhã, quando ficarem velhos ...

√ Continue a ter essa união entre eles para que não sintam o frio ou os desprezem.

√ Que eles tenham inteligência suficiente para aceitar que suas vidas não contam mais, como eles me perguntam.

√ E que Deus queira que eles não se tornem "velhos sentimentais que ainda querem chamar atenção".

√ E que seus filhos não façam com que se sintam em pedaços, para que amanhã eles não tenham que morrer antes ... como eu.






Autora: Silvia Castillejon Peral 
Texto original: ” El dia que me volvi invisible “ 




segunda-feira, 5 de agosto de 2019

O Valor de um gupo

Um homem, comparecia assiduamente às reuniões de um grupo de amigos e, sem comunicar a ninguém, deixou de participar de suas atividades.
Depois de algumas semanas, um amigo, integrante desse grupo, decidiu visitá-lo.
Era uma noite muito fria!
O Amigo o encontrou na sua casa, sozinho, sentado diante da lareira, onde o fogo estava brilhante e acolhedor.
Adivinhando o motivo da visita do seu amigo lhe deu as boas vindas e, aproximando-se da lareira lhe ofereceu uma cadeira grande em frente à chaminé e ficou quieto, esperando.
Nos minutos seguintes, houve um grande silêncio, pois os dois homens somente admiravam a dança das chamas em volta dos troncos de lenha que queimavam.
Depois de alguns minutos, o amigo visitante examinou as brasas que se formaram e cuidadosamente escolheu uma delas, a mais incandescente de todas, empurrando-a para fora do fogo.
Sentando-se novamente, permaneceu silencioso e imóvel.
O anfitrião prestava atenção a tudo, fascinado e também quieto.
Dentro de pouco tempo, a chama da brasa solitária diminuiu, até que após um brilho discreto e momentâneo, seu fogo se apagou em um instante mínimo.
Dentro de pouco tempo, o que antes era uma festa de calor e luz, agora não passava de um frio, morto e preto pedaço de carvão, recoberto de uma camada de cinza espessa.
Nenhuma palavra tinha sido pronunciada desde a protocolar saudação inicial entre os dois amigos.
Antes de preparar-se para ir embora, o amigo visitante movimentou novamente o pedaço de carvão já apagado, frio e inútil, colocando-o novamente no meio do fogo.
Quase que imediatamente o carvão voltou a desprender-se em uma nova chama, alimentado pela luz e o calor das labaredas dos outros carvões em brasa e ao redor dele.
Quando o amigo visitante se aproximou da porta para ir-se embora, seu anfitrião lhe disse:
Obrigado pela visita e pelo belíssimo sermão... !
Retornarei ao grupo de AMIGOS que muito bem sempre me faz...


                                                                           (Desconheço a autoria)


Clube 99

Era uma vez um rei muito rico. Tinha tudo. Dinheiro, poder, conforto, centenas de súditos. Mas, ainda assim não era feliz.
Um dia, cruzou com um de seus criados, que assobiava alegremente enquanto esfregava o chão com uma vassoura.
O rei ficou intrigado.
Como ele, um soberano supremo do reino, poderia andar tão cabisbaixo enquanto um humilde servente parecia desfrutar de tanto prazer?
– “Por que você está tão feliz?”, perguntou o rei.
– “Majestade, sou apenas um serviçal. Não necessito muito. Tenho um teto para abrigar minha família e uma comida quente para aquecer nossas barrigas”.
O rei não conseguia entender. Chamou então o conselheiro do reino, a pessoa em que mais confiava.
– “Majestade, creio que o servente não faça parte do Clube 99.
– “Clube 99? Mas, o que é isso?”
– “Majestade, para compreender o que é o Clube 99, ordene que seja deixado um saco com 99 moedas de ouro na porta da casa do servente”.
E assim foi feito.
Quando o pobre criado encontrou o saco de moedas na sua porta, ficou radiante. Não podia acreditar em tamanha sorte. Nem em sonhos tinha visto tanto dinheiro.
Esparramou as moedas na mesa e começou a contá-las.
-“…96, 97, 98… 99.”
Achou estranho ter 99. Achou que talvez tivessem derrubado uma.
Provavelmente eram 100. Mas, por mais que procurasse, não encontrou nada. Eram 99 mesmo.
De repente, por algum motivo, aquela moeda que faltava ganhou uma súbita importância.
Com apenas mais uma moeda de ouro, uma só, ele completaria 100. Um número de 3 dígitos! Uma fortuna de verdade.
Ficou então obcecado por completar seu recente patrimônio com a moeda que faltava.
Decidiu que faria o que fosse preciso para conseguir mais uma moeda de ouro. Trabalharia dia e noite. Afinal, estava muito perto de ter uma fortuna de 100 moedas de ouro.
Ele seria um homem rico, com 100 moedas de ouro.
E, daquele dia em diante, a vida do servente mudou.
Passava o tempo todo pensando em como ganhar uma moeda de ouro.
Estava sempre cansado e resmungando pelos cantos. Tinha pouca paciência com a família que não entendia o que era preciso para conseguir a centésima moeda de ouro.
Parou de assobiar enquanto varria o chão.
O rei, percebendo essa mudança súbita de comportamento, chamou seu conselheiro.
– “Majestade, agora o servente faz, oficialmente, parte do Clube 99.
E continuou:
– “O Clube 99 é formado por pessoas que têm o suficiente para serem felizes, mas mesmo assim não estão satisfeitas”.
“Estão constantemente correndo atrás dessa moeda que lhes falta. Vivem repetindo que se tiverem apenas essa última e pequena coisa que lhes falta, aí sim poderão ser felizes de verdade”.
“Majestade, na realidade é preciso muito pouco para ser feliz. Porém, no momento em que ganhamos algo maior ou melhor, imediatamente surge a sensação de que poderíamos ter mais”.
“Passamos a acreditar que, com um pouco mais, haveria de fato, uma grande mudança. E ficamos em busca de um pouco mais. Só um pouco mais”.
“Perdemos o sono, nossa alegria, nossa paz e machucamos as pessoas que estão a nossa volta”.
“O pouco mais, sempre vira… um pouco mais”.
“Esse pouco mais é o preço do nosso desejo.”
E concluiu:
– “Isso, majestade… é o Clube dos 99.


Fábula Árabe de autoria desconhecida.


domingo, 14 de julho de 2019

O CAMINHO DE VOLTA


Já estou voltando. Só tenho 37 anos e já estou fazendo o caminho de volta. 

Até o ano passado eu ainda estava indo. Indo morar no apartamento mais alto do prédio mais alto do bairro mais nobre. Indo comprar o carro do ano, a bolsa de marca, a roupa da moda. Claro que para isso, durante o caminho de ida, eu fazia hora extra, fazia serão, fazia dos fins de semana eternas segundas-feiras. 

Até que um dia, meu filho quase chamou a babá de mãe! 
Mas, com quase 40 eu estava chegando lá. 
Onde mesmo? 

No que ninguém conseguiu responder, eu imaginei que quando chegasse lá ia ter uma placa com a palavra FIM. Antes dela, avistei a placa de RETORNO e nela mesmo dei meia volta. 

Comprei uma casa no campo (maneira chique de falar, mas ela é no meio do mato mesmo.) É longe que só a gota serena. Longe do prédio mais alto, do bairro mais chique, do carro mais novo, da hora extra, da babá quase mãe. 

Agora tenho menos dinheiro e mais filho. Menos marca e mais tempo. 

E num é que meus pais (que quando eu morava no bairro nobre me visitaram 4 vezes em quatro anos) agora vêm pra cá todo fim de semana? E meu filho anda de bicicleta e eu rego as plantas e meu marido descobriu que gosta de cozinhar (principalmente quando os ingredientes vêm da horta que ele mesmo plantou). 

Por aqui, quando chove a internet não chega. Fico torcendo que chova, porque é quando meu filho, espontaneamente (por falta do que fazer mesmo) abre um livro e, pasmem, lê. E no que alguém diz “a internet voltou!” já é tarde demais porque o livro já está melhor que o Facebook , o Twitter e o Orkut juntos. 

Aqui se chama ALDEIA e tal qual uma aldeia indígena, vira e mexe eu faço a dança da chuva, o chá com a planta, a rede de cama. 

No São João, assamos milho na fogueira. Nos domingos converso com os vizinhos. Nas segundas vou trabalhar contando as horas para voltar. 

Aí eu lembro da placa RETORNO e acho que nela deveria ter um subtítulo que diz assim: RETORNO – ÚLTIMA CHANCE DE VOCÊ SALVAR SUA VIDA! 

Você provavelmente ainda está indo. Não é culpa sua. É culpa do comercial que disse: “compre um e leve dois”. 

Nós, da banda de cá, esperamos sua visita. Porque sim, mais dia menos dia, você também vai querer fazer o caminho de volta. 

                                                                  ***  
                                                         

Artigo publicado originalmente na coluna do Noblat, no jornal O Globo, em 27 de junho de 2011, escrito por Téta Barbosa Noblat -  jornalista e publicitária (atualmente morando no Recife).

quarta-feira, 10 de julho de 2019

Quando eu estiver velhinha

"Quando eu estiver velhinha, vou morar um pouco com cada filho,
e dar a eles tantas alegrias... Do jeito que eles me deram.
Quero retribuir tudo o que desfrutei deles fazendo as mesmas coisas.
Oh, eles vão adorar!
Escreverei nas paredes com lápis de cores diversas, pularei nos sofás de sapatos e tudo. Beberei das garrafas e as deixarei vazias e fora da geladeira, entupirei de papel os vasos sanitários; como eles ficarão bravos com isso!

(Quando eu estiver velhinha e for morar com meus filhos)...

Quando eles estiverem ao telefone e não puderem me alcançar,
vou aproveitar para brincar com o açúcar ou com a água sanitária.
Eles vão balançar suas cabeças e correr atrás de mim.Mas, eu estarei escondida debaixo da cama.
Quando me chamarem para o jantar que eles prepararam, não vou comer as verduras, as saladas ou a carne, vou engasgar com o quiabo e derramar leite na mesa, e quando se zangarem, corro ― se for capaz!
Sentarei bem perto da TV e vou mudar de canal o tempo todo.
Tirarei as meias pela sala e perderei sempre um pé; e vou brincar na lama até o final do dia.

E mais tarde, à noite, já deitada, vou agradecer a Deus por tudo, fechar meus olhinhos para dormir, e meus filhos vão olhar para mim com um meio sorriso e vão dizer:

― Ela é tão doce quando está dormindo!"



Texto atribuido a Luciana Viter - Professora e especialista em tecnologias na educação -  Cabo Frio/RJ

                                           

quinta-feira, 4 de julho de 2019

O valor do silêncio


“Em muitos momentos da vida o silêncio é a resposta mais sábia que podemos dar a alguém. Por isso, prepare bem a palavra que será dita.

Palavras apressadas não combinam com sabedoria. Os sábios preferem o silêncio. E nos seus poucos dizeres está condensada uma fonte inesgotável de sabedoria.

Não caia na tentação do discurso banal, da explicação simplória.

Queira a profundidade da fala que nos pede calma. Calma para dizer, calma para ouvir. Hoje, neste tempo de palavras muitas, queiramos a beleza dos silêncios poucos.

Não diga as coisas com pressa. Mais vale um silêncio certo, que uma palavra errada. Demore naquilo que você precisa dizer.

Livre-se da pressa de querer dar ordens ao mundo. É mais fácil a gente se arrepender de uma palavra, do que de um silêncio.

Palavra errada, na hora errada, pode se transformar em ferida naquele que disse, e também naquele que ouviu.

Em muitos momentos da vida, o silêncio é a resposta mais sábia que podemos dar a alguém.

O silêncio é a única resposta que devemos dar aos tolos. Porque onde a ignorância fala, a inteligência não dá palpites.”

                                                                 (Padre Fábio de Melo)

sábado, 1 de junho de 2019

A parábola do rei, o servo e os dez cães




O Último Rei da comunidade tinha dez cães selvagens.
Ele usava para torturar e comer qualquer um dos seus servidores que cometesse um erro.
Um dos servos disse algo errado e o rei já não gostava dele.
Então ele ordenou que o servo deveria ser jogado aos cães.
O servo disse: "Eu o servi por dez anos, e você faz isso comigo,
Por favor me dê dez dias antes de me jogar aos cães?"
E o rei lhe concedeu.
Nesses dez dias, o servo foi para o guarda que lida com cães e disse que gostaria de servir os cães durante os próximos dez dias.
O guarda estava confuso, mas concordou e ao servo foi concedido alimentar os cães, limpá-los e banha-los com todo o conforto necessário.
Quando os dez dias acabaram, o rei ordenou que o servo fosse jogado aos cães como punição. Quando foi lançado, todo mundo ficou surpreso ao ver apenas os cães vorazes lamber os pés do servo!
O rei, perplexo com o que estava vendo, disse:
"O que aconteceu com meus cães?"
O servo respondeu: "Eu servi os cães apenas dez dias e não esqueceram os meus serviços, no entanto, eu o servi por dez anos e você se esqueceu de tudo, no meu primeiro erro."
O rei percebeu seu erro e ordenou que o servo fosse salvo.


                                                                                                 (Desconheço a autoria )


Para refletir:
As vezes, por arrogância, orgulho ou vaidade, destruímos um relacionamento ou esquecemos todo o bem que alguém nos fez, por não perdoar, ou relevar um pequeno deslize.








quarta-feira, 29 de maio de 2019

"Cuidado com os burros motivados"




A revista ISTO É, publicou na edição de 19/10/2005 - nº 1879, esta entrevista de Camilo Vannuchi com  Roberto Shinyashiki*. Observador contumaz das manias humanas, Roberto Shinyashiki está cansado dos jogos de aparência que tomaram conta das corporações e das famílias. Nas entrevistas de emprego, por exemplo, os candidatos repetem o que imaginam que deve ser dito. Num teatro constante, são todos felizes, motivados, corretos, embora muitas vezes pequem na competência. Dizem-se perfeccionistas: ninguém comete falhas, ninguém erra. Como Álvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa) em Poema em linha reta, o psiquiatra não compartilha da síndrome de super-heróis. “Nunca conheci quem tivesse levado porrada na vida (…) Toda a gente que eu conheço e que fala comigo nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho, nunca foi senão príncipe”, dizem os versos que o inspiraram a escrever Heróis de verdade (Editora Gente, 168 págs) Farto de semideuses, Roberto Shinyashiki faz soar seu alerta por uma mudança de atitude. “O mundo precisa de pessoas mais simples e verdadeiras.”
  
ISTO É - Quem são os heróis de verdade?
Roberto Shinyashiki - Nossa sociedade ensina que, para ser uma pessoa de  sucesso, você precisa ser diretor de uma multinacional, ter carro  importado,  viajar de primeira classe.
O mundo define que poucas pessoas deram certo. Isso é uma loucura. Para cada diretor de empresa, há milhares de  funcionários  que não chegaram a ser gerentes. E essas pessoas são tratadas como uma multidão de fracassados.
Quando olha para a própria vida, a maioria se convence de que não valeu à  pena,  porque não conseguiu ter o carro, nem a casa maravilhosa.
Para mim, é importante que o filho da moça que trabalha na minha casa,  possa se  orgulhar da mãe.
O mundo precisa de pessoas mais simples e transparentes.
Heróis de verdade são aqueles que trabalham para realizar seus projetos de vida, e não para impressionar os outros. São pessoas que sabem pedir desculpas e admitiram que erraram.

ISTO É -O Sr. citaria exemplos?
Roberto Shinyashiki - Quando eu nasci, minha mãe era empregada doméstica e meu pai, órfão aos sete anos, empregado em uma farmácia.
Morávamos em um bairro miserável em São Vicente (SP) chamado Vila Margarida.
Eles são meus heróis. Conseguiram criar seus quatro filhos, que hoje estão bem.
Acho lindo quando o Cafu põe uma camisa em que está escrito '100% Jardim
Irene'.
É pena que a maior parte das pessoas esconda suas raízes. O resultado é um mundo vítima da depressão, doença que acomete hoje 10% da  população americana. Em países como o Japão, a Suécia e a Noruega, há mais suicídio do que  homicídio.
Por que tanta gente se mata? Parte da culpa está na depressão das aparências, que acomete a mulher, que  embora não ame mais o marido, mantém o casamento, ou o homem que passa  décadas  em um  emprego, que não o faz se sentir realizado, mas o faz se sentir  seguro.

ISTO É -- Qual o resultado disso?
Roberto Shinyashiki - Paranóia e depressão cada vez mais precoce.
O pai quer preparar o filho para o futuro e mete o menino em aulas de inglês, informática e mandarim. Aos nove ou dez anos a depressão aparece.
A única coisa que prepara uma criança para o futuro, é ela poder ser criança.
Com a desculpa de prepará-los para o futuro, os malucos dos pais estão roubando a infância dos filhos. Essas crianças serão adultos inseguros e terão discursos hipócritas.
Aliás, a hipocrisia já predomina no mundo corporativo.
 
ISTO É - Por quê?
Roberto Shinyashiki -  O mundo corporativo virou um mundo de faz-de-conta, a  começar  pelo processo de recrutamento.
É contratado o sujeito com mais marketing pessoal. As corporações valorizam mais a auto-estima do que a competência. Sou presidente da Editora Gente e entrevistei uma moça que respondia todas  as  minhas perguntas com uma ou duas palavras.
Disse que ela não parecia demonstrar interesse.
Ela me respondeu estar muito interessada, mas como falava pouco, pediu que  eu pesasse o desempenho dela, e não a conversa. Até porque ela era candidata a  um  emprego na contabilidade, e não de relações públicas. Contratei-a na hora.  Num processo clássico de seleção, ela não passaria da primeira etapa.
ISTO É - Há um script estabelecido?
Roberto Shinyashiki -  Sim. Quer ver uma pergunta estúpida feita por um presidente  de  multinacional no programa 'O Aprendiz'?
- Qual é seu defeito?
Todos respondem que o defeito é não pensar na vida pessoal:
- Eu mergulho de cabeça na empresa. Preciso aprender a relaxar.
É exatamente o que o Chefe quer escutar.
Por que você acha que nunca alguém respondeu ser desorganizado ou  esquecido?
É contratado quem é bom em conversar, em fingir.
Da mesma forma, na maioria das vezes, são promovidos aqueles que fazem o
 jogo do  poder.
O vice-presidente de uma as maiores empresas do planeta me disse:
'Sabe, Roberto, ninguém chega à vice-presidência sem mentir'.
Isso significa que quem fala a verdade não chega a diretor!

ISTO É - Temos um modelo de gestão que premia pessoas mal preparadas?
Roberto Shinyashiki - Ele cria pessoas arrogantes, que não têm a humildade de se preparar, que não têm capacidade de ler um livro até o fim e não se preocupam com o conhecimento.
Muitas equipes precisam de motivação, mas o maior problema no Brasil é competência.
Cuidado com os burros motivados. Há muita gente motivada fazendo besteira. Não adianta você assumir uma função, para a qual não está preparado. Fui cirurgião e me orgulho de nunca um paciente ter morrido na minha mão.
Mas tenho a humildade de reconhecer que isso nunca aconteceu graças a meus chefes, que foram sábios em não me dar um caso, para o qual eu não estava  preparado. Hoje, o garoto sai da faculdade achando que sabe fazer uma neurocirurgia. O Brasil se tornou incompetente e não acordou para isso.

ISTO É - Está sobrando auto-estima?
Roberto Shinyashiki - Falta às pessoas a verdadeira auto-estima.  Se eu preciso que os outros digam que sou o melhor, minha auto-estima está  baixa.
Antes, o ter conseguia substituir o ser.  O cara mal-educado dava uma gorjeta alta para conquistar o respeito do garçom. Hoje, como as pessoas não conseguem nem ser, nem ter, o objetivo de vida se
tornou parecer.
As pessoas parecem que sabem, parece que fazem, parece que acreditam.  E poucos são humildes para confessar que não sabem.  Há muitas mulheres solitárias no Brasil, que preferem dizer que é melhor assim.
Embora a auto-estima esteja baixa, fazem pose de que está tudo bem.

ISTO É - Por que nos deixamos levar por essa necessidade de sermos perfeitos em  tudo e de valorizar a aparência?
Roberto Shinyashiki - Isso vem do vazio que sentimos.  A gente continua valorizando os heróis.  
Quem vai salvar o Brasil? O Lula.  Quem vai salvar o time? O técnico. Quem vai salvar meu casamento? O terapeuta.  O problema é que eles não vão salvar nada!
Tive um professor de filosofia que dizia:
 'Quando você quiser entender a essência do ser  humano, imagine a rainha Elizabeth com uma crise de diarréia durante um  jantar  no Palácio de Buckingham'. Pode parecer incrível, mas a rainha Elizabeth  também  tem diarréia.  
Ela certamente já teve dor de dente, já chorou de tristeza, já fez coisas  que  não deram certo.
A gente tem de parar de procurar super-heróis, porque se o super-herói não  segura a onda, todo mundo o considera um fracassado.

ISTO É - O conceito muda quando a expectativa não se comprova?
Roberto Shinyashiki - Exatamente. A gente não é super-herói nem superfracassado. A gente acerta, erra, tem dias de alegria e dias de tristeza.  Não há nada de errado nisso. Hoje, as pessoas estão questionando o Lula, em parte porque acreditavam que ele  fosse mudar suas vidas e se decepcionaram. A crise será positiva se elas entenderem que a responsabilidade pela própria vida é delas.

ISTO É - Muitas pessoas acham que é fácil para o Roberto Shinyashiki dizer essas  coisas, já que ele é bem-sucedido. O senhor tem defeitos?
Roberto Shinyashiki - Tenho minhas angústias e inseguranças. Mas aceitá-las faz  minha  vida fluir facilmente. Há várias coisas que eu queria e não consegui. Jogar na Seleção Brasileira, tocar nos Beatles (risos). Meu filho mais  velho  nasceu com uma doença cerebral e hoje tem 25 anos.
Com uma criança especial, eu aprendi que, ou eu a amo do jeito que ela é, ou  vou massacrá-la o resto da vida para ser o filho que eu gostaria que  fosse.  Quando olho para trás, vejo que 60% das coisas que fiz deram certo. O resto foram apostas e erros.
Dia desses apostei na edição de um livro, que não deu certo.  Um amigão me perguntou:
'Quem decidiu publicar esse livro?'
Eu respondi que tinha sido eu. O erro foi meu. Não preciso mentir.

ISTO É - Como as pessoas podem se livrar dessa tirania da aparência?
Roberto Shinyashiki - O primeiro passo é pensar nas coisas que fazem as pessoas
cederem  a essa tirania e tentar evitá-las.
São três fraquezas:
A primeira é precisar de aplauso, a segunda é precisar se sentir amada e a
terceira é buscar segurança.
Os Beatles foram recusados por gravadoras e nem por isso desistiram. Hoje, o erro das escolas de música é definir o estilo do aluno. Elas ensinam a tocar como o Steve Vai, o B. B. King ou o Keith Richards. Os MBAs têm o mesmo problema: ensinam os alunos a serem covers do Bill Gates.
O que as escolas deveriam fazer é ajudar o aluno a desenvolver suas próprias potencialidades.
  
ISTO É - Muitas pessoas têm buscado sonhos que não são seus?
Roberto Shinyashiki - A sociedade quer definir o que é certo. São quatro loucuras
da  sociedade...
A primeira é instituir que todos têm de ter sucesso, como se eles não  tivessem  significados individuais.
A segunda loucura é:  Você tem de estar feliz todos os dias.
A terceira é:  Você tem que comprar tudo o que puder. O resultado é esse consumismo
absurdo.
Por fim, a quarta loucura:
Você tem de fazer as coisas do jeito certo.  Jeito certo não existe. Não há um caminho único para se fazer as coisas. As metas são interessantes para o sucesso, mas não para a felicidade.
Felicidade não é uma meta, mas um estado de espírito. Tem gente que diz que não será feliz, enquanto não casar, enquanto outros se  dizem infelizes justamente por causa do casamento.
Você pode ser feliz tomando sorvete, ficando em casa com a família ou com amigos  verdadeiros, levando os filhos para brincar ou indo à praia ou ao cinema..
ISTO É - O sr, visita mestres na Índia com frequencia. Há alguma parábola que o sr, aprendeu com eles que o ajude a agir?
Roberto Shinyashiki -  Quando era recém-formado em São Paulo, trabalhei em um hospital de
 pacientes  terminais.  Todos os dias morriam nove ou dez pacientes. Eu sempre procurei conversar com eles na hora da morte. A maior parte pega o médico pela camisa e diz:
'Doutor, não me deixe morrer. Eu me sacrifiquei à vida inteira, agora eu
quero  aproveitá-la e ser feliz'.
Eu sentia uma dor enorme por não poder fazer nada. Ali eu aprendi que a felicidade é feita de coisas pequenas.
Ninguém na hora da morte diz se arrepender por não ter aplicado o dinheiro em  imóveis ou ações, mas sim de ter esperado muito tempo ou perdido várias oportunidades para aproveitar a vida.
Uma história que aprendi na Índia me ensinou muito. O sujeito fugia de um urso e caiu em um
barranco. Conseguiu se pendurar em algumas raízes.O urso tentava pegá-lo. Embaixo, onças pulavam para agarrar seu pé. No maior sufoco, o sujeito olha para o lado e vê um arbusto com um morango. Ele pega o morango, admira sua beleza e o saboreia. Cada vez mais nós temos ursos e onças à nossa volta. Mas é preciso comer os morangos.


(*) Roberto Shinyashiki, médico psiquiatra, com Pós-Graduação em administração  de  empresas pela USP, consultor organizacional e conferencista de renome  nacional e  internacional.