quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

O Sucesso consiste em não fazer inimigos

  
Nas relações humanas no trabalho, existem apenas 3 regras.

Regra número 1: colegas passam, mas inimigos são para sempre. A chance de uma pessoa se lembrar de um favor que você fez a ela vai diminuindo à taxa de 20% ao ano. Cinco anos depois, o favor será esquecido. Não adianta mais cobrar. Mas a chance de alguém se lembrar de uma desfeita se mantém estável, não importa quanto tempo passe.
Exemplo: se você estendeu a mão para cumprimentar alguém em 1997 e a pessoa ignorou sua mão estendida, você ainda se lembra disso em 2007.

Regra número 2: A importância de um favor diminui com o tempo, enquanto a importância de uma desfeita aumenta. Favor é como um investimento de curto prazo. Desfeita é como um empréstimo de longo prazo. Um dia, ele será cobrado, e com juros.

Regra número 3: Um colega não é um amigo. Colega é aquela pessoa que, durante algum tempo, parece um amigo. Muitas vezes, até parece o melhor amigo, mas isso só dura até um dos dois mudar de emprego.

Amigo é aquela pessoa que liga para perguntar como você está e sempre reclama porque sumiu. Ex-colega que parecia amigo é aquela pessoa que você liga para pedir alguma coisa, e ela manda dizer que no momento não pode atender.
Durante sua carreira, uma pessoa normal terá a impressão de que fez um milhão de amigos, na verdade colegas e apenas meia dúzia de inimigos.

Estatisticamente, isso parece ótimo. Mas não é. A Lei da Perversidade Profissional diz que, no futuro, quando você precisar de ajuda, é possível que quem mais poderá ajudá-lo é exatamente um daqueles poucos amigos.

Portanto, profissionalmente falando, e pensando a longo prazo, o sucesso consiste, principalmente, em evitar fazer inimigos. Porque, por uma infeliz coincidência biológica, os poucos inimigos são exatamente aqueles que tem boa memória.
E segundo ditado popular ( bem popular mesmo ):   
"Os amigos vem e vão, os inimigos se acumulam...."

(Max Gehringer)

Para reflexão (1)


terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Vinho e Café

                                            Vinho e Café
                                               (Anaelena P. Lima )




           Nós sempre nos chamamos pelos nomes, Maria e José,  assim como  poderíamos ser João ou Roberto, Helena ou Lucila. Gosto deste nome Lucila. Mas somos Maria e José.
        Houve tempo em que nos tratávamos carinhosamente:  Ninha e Zezé. Mas essa época está longe. Já não há jabuticabeiras nem quintal, ou alameda de jasmins.  A cidade é grande, Maria já não veste mais vestidos de  organdi branco e eu  já não tenho o meu terno azul-marinho, de calças curtas.
          Sessenta e sessenta e cinco anos. Irmãos.
Maria foi bonita. Era alta, olhos grandes e escuros, pele muito clara. Tinha um ar, um sorriso distante. Sabia disso e tirava partido. Hoje quando a olho me   dá pena. Seus olhos diminuíram,   a pele está manchada, os ombros caídos.
      Quanto a mim, não sei. Ela deve sentir a mesma coisa. Procurar o rapaz que fui e já não sou.
    Somos só nós dois neste apartamento. Há a empregada que vem duas vezes por semana e o cachorro de Maria. Vive enroscado em seus pés, a lamber-lhe os chinelos e a olhá-la com olhos melosos. Eu não gosto de bichos. Sinto um certo constrangimento, é o mesmo com crianças.
       Ela foi professora a vida toda. Eu advoguei enquanto pude. As tristezas da profissão e uma certa descrença da vida me fizeram parar. Hoje não  fazemos nada. Ela tem o seu crochê, suas novelas, seu cachorro.  Eu leio de vez em quando, tenho o meu cachimbo, meu vinho e minhas voltas  na praça que fica bem aqui em frente. 
     As vezes me pergunto com teriam sido nossas vidas se nos houvéssemos casado. Nunca encontro resposta. Lembro-me de um namorado de Maria. Ela ia pelos vinte anos. Ele era bancário, um moço alegre e bem disposto. Um dia acabou, Maria caiu numa tristeza profunda e quieta. Tempos depois lhe perguntei porquê e ela me disse que não se amavam, que ele era vulgar e frívolo. Nunca soube o que ela entendia por vulgar e frívolo, mas em seus olhos havia ainda alguma mágoa, um pouco de pássaro.
Eu gostei de uma mulher. Já homem maduro me vi apaixonado, mas Maria venceu. Quando lhe apresentei a moça, ela sorriu, foi delicada, conversou. No dia seguinte  me fez a pregunta:
          -  Você vai casar?
          -  Não sei Maria.
          -  Não gostei dela.
     Nunca mais falamos a  respeito. Era uma vida inteira com Maria, nada podia fazer. Não me arrependo. Temos alguns amigos, mas são poucos. A vizinha do apartamento da frente, viúva de um médico, de quem Maria ouve as queixas. Um antigo colega de faculdade que traz flores todas as semanas, joga conosco e, mais que isso,  ressona na cadeira de balanço que foi de papai. O padre da igreja do bairro, homem cheio de macieza, dengoso, que escuta os pecados de Maria.
     Aos domingos ela faz frango ao molho pardo e ovos queimados. Nunca deixou de perguntar se estava bom, como da primeira vez. Sabe que gosto, e tem um prazer tão grande em me contentar que não posso deixar de achar graça. Fica brava, e Maria brava é engraçada. Franze as sobrancelhas, levanta os cantos da boca. Enquanto não lhe dou um beijo na testa não volta ao normal.
     Nossas noites são calmas e quietas. O cachimbo não me permite falar e Maria fica a  contar os pontos na agulha e beber as palavras de amor que ouve na televisão, o que por certo nunca ouviu ela mesma.
Depois não há nada a dizer.
           -  José, ponha a água para ferver. Vou fazer o café.
      São dez horas e essa hora é sagrada. Ela arrasta os chinelos, arruma o xale nas costas e vai para a cozinha acompanhada pelo cachorro.   Escalda o bule, as xícaras. Falado o tempo do padre, diz  boa noite  e fica horas no terço antes de apagar a luz do quarto.
      De uns tempo para cá  Maria andou esquisita. Me chamando de Zezé, falando como criança, meio esquecida. Um dia estranhei isso tudo e ela respondeu que era velhice, miolo mole. Fiquei preocupado, além disso ela sentia umas dores no peito. Me alarmei. Levei-a ao médico e a resposta veio franca e dura:
           - Esclerose, coração.
         Agora Maria morreu. A cadeira em que costumava sentar está vaga, seu crochê inacabado, o cachorro lambe os meus sapatos. Eu  contrafeito, passo a mão na sua cabeça.
         São dez horas, levanto-me e ponho a água no fogo. Me atrapalho ao escaldar o bule. Estou velho e cansado. Ia me esquecendo, é só uma xícara.




sábado, 19 de dezembro de 2015

Feliz Férias, ou Felizes Férias? 


          Certa vez, li na veja, um dos seus colunista (Stephen Kanitz) citar que as férias  “criam e perpetuam a ideia de que no Brasil se ganha sem ter de trabalhar". Ao contrário do que pensa o colunista, entendo que além de uma conquista trabalhista, as férias são um mecanismo de revitalização do ser humano tão necessárias como o sono diário.  Há séculos, os romanos costumavam tirar um dia de descanso conhecido como "féria". Este dia, por prescrição da igreja Católica da época, era o dia em que ninguém deveria trabalhar.

       Pois bem, durante uma das minhas férias, resolvi dar uma passeada por ai afora, e tive a oportunidade de  “garimpar” algumas pérolas (do nosso controverso idioma) que, por pertencerem ao escopo do Blog, achei oportuno comentar. Vamos lá:


          Estive na cidade de Natal e vi  – em frente ao terminal rodoviário - um restaurante com o nome de 24 HS (vide foto abaixo).  O nome pode até estar sintonizado com o horário de funcionamento daquele estabelecimento,  mas certamente não está sintonizado com a norma culta. O vocábulo “horas”  deve ser abreviado somente com a letra “h” minúscula e sem ponto ( a não ser que caia em final de frase, quando deve-se colocar o ponto final). Sei que são muitas as dificuldades no dia a dia quando se tem que escrever sobre “horas”. As vezes vemos somente com  "H" maiúsculo, as vezes com “Hs” ( o “H” maiúsculo e o “s” minúsculo) ou as duas letras maiúsculas  “HS” ou minúsculas “hs”.  A incerteza é constante. Se você tinha dúvida, espero ter contribuído para que, a partir de agora, possa escrever, sem medo de errar: 3h, 4h,11h,  20h, 21h, sem ponto e sem plural, pois o sistema ortográfico brasileiro não admite o registro do plural (a letra "s") em nenhuma abreviatura de horas, embora vejamos isso constantemente. Ah! outra coisa: os ingleses usam os dois pontos: 10:00, 15:00, 10:15.( como normalmente vemos nos relógios digitais) mas lembre-se: não somos ingleses. Se tiver que escrever as frações de horas, utilize o formato: 3h15min, 4h56min, 20h33min (também sem ponto, exceto quando, confome citado acima, seja fim de frase).   
           Ainda aproveitando o período das férias, fui para o Rio de Janeiro ( òpa!) Fui para?... Não, fui "ao" Rio de Janeiro. Quando nos referimos ao verbo ir, só devemos usar "para" quando for definido que não haverá retorno. ( tratarei deste assunto num próximo "post") e como eu estava citando, no Rio de Janeio, numa rua de Copacabana, uma placa alertava: NÃO ESTACIONE - GARAGE. Ora, se estamos no  Brasil, devemos escrever ( e pronunciar) GARAGEM, forma aportuguesada de "garage" que é um vocábulo francês, tal qual " garçon" que comumente vemos grafados com "n" quando na verdade já foi aportuguesada para "garçom"!  Outra situação ocorreu  no  momento do encerramento  da  conta no hotel, que alguns preferem chamar de “check out” (ao meu ver, estrangeirismo desnecessário,apesar de o termo já ter sido aportuguesado para "checaute") perguntei ao moço do hotel, quanto custava uma corrida de táxi até  o  aeroporto. Ele respondeu: “...o preço é barato”. Pura redundância, “barato” assim como “caro” já indica ideia de preço. Produtos ou serviços  são “caros” ou “baratos”. Os preços são "altos" ou "baixos". 


E pra terminar , no caminho para o aeroporto, o motorista do táxi, comentava acerca da quantidade ( na opinião dele, absurda) de radares eletrônicos naquela cidade. Ora, desconheço radar que não seja eletrônico.  A  propósito, conforme o  dicionário Aurélio , a  palavra “radar”  é formada pelas inicias da expressão inglesa: radio detecting and ranging  e significa algo como “detecção e alcance por rádio” o que torna a expressão “radar eletrônico” redundante.
     Por enquanto é só. 
     Ah! Ia esquecendo: O correto é "Férias Felizes" . Férias é um substantivo feminino plural. Sendo assim, os adjuntos adnominais (artigos, adjetivos, pronomes) devem flexionar em número e gênero.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

A escolha de Sofia


"Família é prato difícil de preparar..."


(Trecho do livro "O Arroz de Palma" de Francisco Azevedo*.) 

           Família é prato difícil de preparar. São muitos ingredientes. Reunir todos é um problema...Não é para qualquer um. Os truques, os segredos, o imprevisível. Às vezes, dá até vontade de desistir... Mas a vida... sempre arruma um jeito de nos entusiasmar e abrir o apetite. O tempo põe a mesa, determina o número de cadeiras e os lugares. Súbito, feito milagre, a família está servida. Fulana sai a mais inteligente de todas. Beltrano veio no ponto, é o mais brincalhão e comunicativo, unanimidade. Sicrano, quem diria? Solou, endureceu, murchou antes do tempo. Este é o mais gordo, generoso, farto, abundante. Aquele, o que surpreendeu e foi morar longe. Ela, a mais apaixonada. A outra, a mais consistente...Já estão aí? Todos? Ótimo. Agora, ponha o avental, pegue a tábua, a faca mais afiada e tome alguns cuidados. Logo, logo, você também estará cheirando a alho e cebola. Não se envergonhe de chorar.                   Família é prato que emociona. E a gente chora mesmo. De alegria, de raiva ou de tristeza. Primeiro cuidado: temperos exóticos alteram o sabor do parentesco. Mas, se misturadas com delicadeza, estas especiarias, que quase sempre vêm da África e do Oriente e nos parecem estranhas ao paladar tornam a família muito mais colorida, interessante e saborosa. Atenção também com os pesos e as medidas. Uma pitada a mais disso ou daquilo e, pronto: é um verdadeiro desastre. Família é prato extremamente sensível. Tudo tem de ser muito bem pesado, muito bem medido. Outra coisa: é preciso ter boa mão, ser profissional. Principalmente na hora que se decide meter a colher. Saber meter a colher é verdadeira arte.
          As vezes o ídolo da família,  o bonzinho, o bola cheia que sempre ajudou azedou a comida só porque meteu a colher. O pior é que ainda tem gente que acredita na receita da família perfeita. Bobagem. Tudo ilusão. Família é afinidade, é à Moda da Casa. E cada casa gosta de preparar a família a seu jeito. Há famílias doces. Outras, meio amargas. Outras apimentadíssimas. Há também as que não têm gosto de nada, seria assim um tipo de Família Dieta, que você suporta só para manter a linha. Seja como for, família é prato que deve ser servido sempre quente, quentíssimo. Uma família fria é insuportável, impossível de se engolir.
          Enfim, receita de família não se copia, se inventa. A gente vai aprendendo aos poucos, improvisando e transmitindo o que sabe no dia a dia. A gente cata um registro ali, de alguém que sabe e conta, e outro aqui, que ficou no pedaço de papel. Muita coisa se perde na lembrança. O que este veterano cozinheiro pode dizer é que, por mais sem graça, por pior que seja o paladar, família é prato que você tem que experimentar e comer. Se puder saborear, saboreie. Não ligue para etiquetas. Passe o pão naquele molhinho que ficou na porcelana, na louça, no alumínio ou no barro. 
Aproveite ao máximo. Família é prato que, quando se acaba, nunca mais se repete."






segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Mais curiosidades do Idioma


          Garimpando nos meus “alfarrábios” encontrei alguns vocábulos, que embora façam parte do nosso dia a dia, poderão causar dúvidas ou dificuldades ao escrevê-los ou pronunciá-los e integram o acervo de curiosidades do idioma. Pois bem:

          A palavra “mel” tem dois plurais: “méis” e “meles” o que permite pronunciar (ou escrever): “Comprei meles variados” ou “ comprei vários méis”. O mesmo se aplica ao substantivo “fel”. Seu plural é “féis” e “feles”. Aqui entre nós: tanto um quanto o outro soa esquisito não é mesmo? Mas, fazer o quê? Coisas do idioma.
Outro plural também esquisito é o de “gravidez”. Conforme o Dicionário Aurélio, “gravidez”  é o estado da mulher, e das fêmeas em geral, durante a gestação (e o mesmo que prenhez)”.  E como fica o plural dessas palavras? É feito como qualquer outro vocábulo terminado em “z”. Exemplos? . “Voraz/Vorazes”, “Capaz/Capazes”, “ Prenhez/Prenhezes”, “juiz/juízes” e assim: ”Gravidez/Gravidezes.

          E “Júnior”?  É palavra de origem latina e significa: o mais jovem (de dois). Emprega-se (às vezes abreviadamente) após o nome de uma pessoa para indicar que é a mais jovem da família que tem aquele nome. O plural é feito como o de qualquer palavra portuguesa ou aportuguesada que termine em “r”  com o acréscimo de “es” como é o caso de “colher/colheres”, “cor/cores”, “repórter/repórteres”. Assim sendo, o plural de “Junior” é “juniores” contudo, deve-se atentar para o seguinte:  a sílaba tônica desloca-se da vogal “u” para a vogal “o” , por conseguinte a pronúncia passa a ser “juniores” (pronuncia-se como se tivesse acento circunflexo no "o") O mesmo se aplica a palavra “sênior” que também vem do latim e significa: , “mais antigo”, “mais velho”  e tem como plural “seniores” com o deslocamento da sílaba tônica, também,  para a vogal “o”. Pelo amor de Deus, nunca pronuncie:  "Juniors" ou “Seniors” . Ah! e quando tiver que enviar ou receber “fax” envie ou receba tantos quantos forem necessários mas sempre no singular. Ex. “ Enviei dois fax” , “ Os fax recebidos estão ilegíveis”. “Fax” não sofre alteração esclarecendo, por oportuno que fax é a redução de "fac-símile", expressão de origem latina.

          
          E para concluir este “post”:  Blitze,  é  plural de “blitz”. Ex. “ Nas diversas  blitze realizadas pela polícia na semana passada, foram apreendidos 23 veículos em situação irregular perante o Detran ”  assim como Campi  é o plural de Campus (conjunto de edifícios e terrenos de uma universidade).  Esta palavra, embora latina, foi importada dos ingleses e americanos (quando da criação de nossas universidades) exatamente por não possuir na língua portuguesa uma palavra que designasse o conjunto de prédios e espaços físicos de uma universidade.



domingo, 13 de dezembro de 2015



Erros de  português desqualificam qualquer texto 

          A correção na escrita é um requisito essencial para o sucesso de qualquer profissional que lida com a escrita nas suas mais variadas formas (e-mails, memorandos, ofícios, textos) etc. E uma das formas para se conseguir isso é a revisão. A revisão é essencial. Caso não disponha de um corretor ortográfico, que auxilia na correção de uma boa parte dos erros, não é demérito algum pedir ao colega          ( sempre há algum com mais afinidade no assunto e a quem normalmente recorremos nas dúvidas do dia-a-dia ) que o auxilie na revisão do seu texto.

          Muitos dos erros absurdos que vemos nos e-mails e correspondências, posso afirmar com convicção, são cometidos muito mais por displicência que por ignorância quanto a forma correta de grafa-los e o que é pior: quase sempre são percebidos pelo remetente na fração de segundo posterior ao acionamento da tecla  “send” e ai  o dano à sua imagem poderá ser irreparável. Outro dia, quase fui vitima disso, digitando num e-mail a  palavra “executar” a fiz colocando o “z” no lugar do “x” e saiu  “ezecutar”. Graças ao hábito de dar uma revisada, ainda que rápida, nos e-mails, antes de enviá-los, detectei o absurdo e me poupei do vexame de ser mal interpretado pelos destinatários que – imagino – nunca entenderiam tratar-se de um erro de digitação (são teclas vizinhas ) e não de ignorância quanto a forma correta de grafar tal vocábulo.
         
          Por isso reforço:  por mais atarefado que você esteja  ou por mais urgente que seja a remessa, não deixe de revisar seus textos antes de enviá-los. Isso evitará não só agressão ao idioma mas principalmente à sua imagem.






Algumas curiosidades do nosso idioma

          Existem diversos vocábulos que entraram num processo linguístico chamado Redução ou abreviação o qual consiste no corte da palavra até o limite da compreensão. Vejamos alguns exemplos:  "extra" vem do adjetivo "extraordinário". "Extra" significa "fora de", "extraordinário" significa "fora do ordinário", ou seja, fora do que é comum, normal, ordinário. Geralmente por serem grandes, os vocábulos dessa natureza, entram neste processo implacável de redução. É o caso também de “pneu”, que advém de Pneumático, “foto” de Fotografia, “cinema” de Cinematógrafo, “fone”, de Telefone, “Volks” de Volkswagen  e inclusive “Kombi”, originado do alemão Kombinationfahrzeug e significa: "veículo combinado" ou, numa tradução mais livre, veículo multiuso".
          Saindo da redução ou abreviação, gostaria também de comentar uma palavrinha que de vez em quando circula no universo dos vocábulos com sentidos imprecisos. Trata-se da palavra “chance”, um galicismo (incorporado à nossa língua por influência do idioma francês) que deve ser usada somente no sentido positivo. Ex. “Apesar da derrota, nossa equipe tem chance de ser campeã ”. Não é correto dizer, por exemplo, que "o aluno tem chance de ser reprovado”. Substitua por:  O aluno tem possibilidade (ou probabilidade) de ser reprovado”. Nunca use a palavra "chance" com o sentido negativo. Atenção também com os vocábulos “Estada” e  e  “Estadia”.   "Estada" indica a permanência de alguém em algum lugar. Ex. “A estada do presidente na capital Cearense foi de apenas duas horas” . “A minha estada no hotel foi de três dias” . “Estadia” é a permanência (prazo concedido) para carga e descarga de um navio num porto. Como a língua portuguesa é uma língua viva, o uso frequente de “estadia”  (em vez de “estada”)  acaba sendo consagrada pelo idioma como sinônimo desta o que, inclusive, já é aceito por alguns gramáticos.
          E para terminar o comentário  desta semana, chamo atenção para os vocábulos “ Reveses” (com “s”) e “Revezes ( com “z”)  muito cuidado para – na hora de escrever - não confundir uma com a outra. "Reveses" é o plural de "revés", sinônimo de "insucesso", "derrota". Já "revezes" é a forma da segunda pessoa do singular do presente do subjuntivo do verbo "revezar", que se escreve com "z" porque é da mesma família de "vez". "Revezar" é produto de "re + vez + ar" e significa "substituir alternadamente": "Quero que tu te revezes com o Fernando na prova de natação."


  Bom, o assunto é vasto. Continuarei em postagens futuras.






Recifilosófico 001.48


                                          



   
EU NÃO GOSTO DE VOCÊ PAPAI NOEL
                       ( Aldemar Paiva* )



          Eu não gosto de você Papai Noel! Também não gosto desse seu papel de vender ilusão para a burguesia. Se os meninos pobres da cidade soubessem o desprezo que você tem pelos humildes; pela humildade, eu acho que eles jogavam pedra em sua fantasia.
Talvez você não se lembra mais, eu cresci me tornei rapaz, sem nunca esquecer daquilo que passou...  Eu lhe escrevi um bilhete pedindo o meu presente... a noite inteira eu esperei contente... Chegou o sol, mas você não chegou. Dias depois meu pobre pai cansado me trouxe um trenzinho velho, enferrujado, pôs na minha mão e falou: tome filho, é para você. Foi Papai Noel que mandou! E vi quando ele disfarçou umas lágrimas com a mão. Eu inocente e alegre nesse caso, pensei que meu bilhete, embora com atraso, tinha chegado em suas mãos no fim do mês.
          Limpei ele bem limpado, dei corda, o trenzinho partiu, deu muitas voltas... O meu pai então se riu e me abraçou pela última vez. O resto eu só pude compreender depois que cresci e vi as coisas com a realidade.
Um dia meu pai chegou assim pra mim como quem tá com medo e falou:
 - Filho, me dá aqui seu brinquedo, eu vou trocar por  outro na cidade.
Então eu entreguei o meu trenzinho quase a soluçar, como quem não quer abandonar um mimo, um mimo que lhe deu quem lhe quer bem. Eu supliquei... Pai! Eu não quero outro brinquedo, eu quero meu trenzinho... Não vai levar meu trem, pai...! Meu pai calou-se e de seu rosto desceu uma lágrima que até hoje creio, tão pura e santa assim, só Deus chorou.  Ele saiu correndo, bateu a porta assim, como um doido varrido.
          A minha mãe gritou:
          - José! José! José...
          Ele nem deu ouvido, foi-se embora e nunca mais voltou... Você! Papai Noel, me transformou num homem que a infância arruinou...Sem pai e sem brinquedo, afinal, dos meus presentes não há um que sobre da riqueza de um menino pobre, que sonha o ano inteiro com a noite de Natal! Meu pobre 
pai,  mal vestido, pra não me ver naquele dia desiludido, pagou bem caro a minha ilusão... Num gesto nobre, humano e decisivo, ele foi longe demais pra me trazer aquele lenitivo; tinha roubado aquele trenzinho do filho do patrão!

        Quando ele sumiu, pensei que ele tinha viajado, só depois de eu grande, minha mãe em prantos me contou que ele foi preso, coitado! E transformado em réu. Ninguém pra absolver meu pai se atrevia. Ele foi definhando na cadeia até que um dia, Nosso Senhor... Deus, nosso Pai... Jesus entrou em sua cela e libertou ele pro ceu.





 * Aldemar Buarque de Paiva, (1925– 2014) Alagoano de nascimentofoi poeta, cordelista, radialista, jornalista, compositor, produtor artístico e publicitário de primeira grandeza. 
            Em 1948 fundou a rádio Difusora de Maceió. Em 1951 como Oficial do Exército, foi transferido para o Recife, atuando inicialmente na Rádio Clube de Pernambuco, em substituição a Chico Anysio, como produtor, apresentador e diretor artístico. Autor de mais de 70 composições musicais, algumas em parcerias com outros compositores. Membro da Academia de Artes e Letras de Pernambuco; Sócio honorário da Academia Maceioense de Letras; Compositor filiado à União Brasileira de Compositores.
            Homem com excepcional talento, era capaz de realizar com maestria tudo aquilo que se propunha a fazer, motivo pelo qual adquiriu o respeito da crítica e a admiração do público em relação a todas as facetas exploradas por sua veia artística, consagrando-se como um artista multimídia antes mesmo que o termo fosse inventado.