quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Quando me tornei invisível


Já não sei em que datas estamos, nesta casa não há folhinhas, e na minha memória tudo está revolto. As coisas antigas foram desaparecendo.E eu também fui apagando sem que ninguém se desse conta.

Primeiro eles mudaram meu quarto porque a família cresceu, então me passaram para um menor ainda acompanhado pelos meus bisnetos, agora eu ocupo o sótão, o do quintal, eles prometeram trocar o vidro quebrado da janela, mas eles esqueceram-se e todas as noites há um ar gelado que aumenta minha dor reumática.

Por muito tempo tive intenções de escrever, mas passei semanas procurando um lápis e quando finalmente encontrei, eu mesmo esqueci onde eu coloquei, Aaah! Na minha idade, as coisas se perdem facilmente.

Na outra tarde, percebi que minha voz também havia desaparecido, quando falo com meus netos ou com meus filhos, eles não me respondem, mas não me ouvem, não olham para mim, não me respondem ...

Então, cheio de tristeza, me retiro para o meu quarto antes de terminar de tomar a xícara de café, faço assim, de repente, para que entendam que estou com raiva, para que percebam que me ofenderam e vieram me procurar e pedir perdão . mmmh! Mas ninguém vem.

Outro dia eu disse a eles que quando eu morresse eles iriam sentir minha falta, e o neto mais novo disse ... ah! e pouco a pouco você está vivo vovó !!!!!!!

Eles acharam tão engraçado que não pararam de rir, três dias eu estava chorando no meu quarto até que uma manhã um dos meninos entrou para pegar alguns pneus velhos e, psst, nem mesmo o bom dia que ele me deu, foi quando me convenci que sou invisível.

Eu fico no meio da sala para ver se mesmo que seja um obstáculo, eles olham para mim, mas minha filha continua varrendo sem me tocar, as crianças correm ao meu redor de um lado para o outro sem tropeçar em mim.

Quando meu genro adoeceu, tive a oportunidade de ser útil para ele, trouxe-lhe um chá especial que preparei para mim, coloquei na mesa e sentei para esperar que fosse tirado, só que eu estava vendo televisão e nem pisquei quem percebeu minha presença, chá, gradualmente esfriando e meu coração também.

Numa sexta-feira, as crianças começaram a brigar e vieram me dizer que no dia seguinte todos nós iríamos fazer um piquenique, e fiquei muito feliz, fazia tanto tempo desde que saíra e menos para o campo.

No sábado fui o primeiro a levantar, queria consertar as coisas com calma ... ah!

Os mais velhos levaram muito tempo para fazer qualquer coisa, então eu demorei para não atrasá-los, depois de um tempo eles entraram e saíram da casa correndo e jogaram as bolsas e os brinquedos no carro, eu estava pronta e muito feliz esperando por eles na porta ...


Quando eles começaram e o carro desapareceu envolto em agitação, eu entendi que não fui convidado, talvez porque não se encaixasse no carro ou porque meus passos devidos impediriam que todo mundo corresse pela floresta, me senti clara, clara, como meu coração encolheu, meu queixo tremia como quando você não aguenta chorar.

Antes até beijei os pequeninos, foi um enorme prazer que ele me deu para tê-los em meus braços como se fossem meus, senti sua pele macia e sua respiração doce, muito perto de mim, a nova vida entrou em mim como uma respiração e até eu não queria cantar canções de ninar que nunca pensei ter me lembrado, mas um dia, minha neta Lucy, que acabara de ter um bebê, disse que não era bom para os idosos beijar crianças por motivos de higiene, não me aproximei, não. Se algo de ruim aconteceu com eles por causa da minha imprudência, tenho tanto medo de contradizê-los!

Espero que amanhã, quando ficarem velhos ...

√ Continue a ter essa união entre eles para que não sintam o frio ou os desprezem.

√ Que eles tenham inteligência suficiente para aceitar que suas vidas não contam mais, como eles me perguntam.

√ E que Deus queira que eles não se tornem "velhos sentimentais que ainda querem chamar atenção".

√ E que seus filhos não façam com que se sintam em pedaços, para que amanhã eles não tenham que morrer antes ... como eu.






Autora: Silvia Castillejon Peral 
Texto original: ” El dia que me volvi invisible “ 




segunda-feira, 5 de agosto de 2019

O Valor de um gupo

Um homem, comparecia assiduamente às reuniões de um grupo de amigos e, sem comunicar a ninguém, deixou de participar de suas atividades.
Depois de algumas semanas, um amigo, integrante desse grupo, decidiu visitá-lo.
Era uma noite muito fria!
O Amigo o encontrou na sua casa, sozinho, sentado diante da lareira, onde o fogo estava brilhante e acolhedor.
Adivinhando o motivo da visita do seu amigo lhe deu as boas vindas e, aproximando-se da lareira lhe ofereceu uma cadeira grande em frente à chaminé e ficou quieto, esperando.
Nos minutos seguintes, houve um grande silêncio, pois os dois homens somente admiravam a dança das chamas em volta dos troncos de lenha que queimavam.
Depois de alguns minutos, o amigo visitante examinou as brasas que se formaram e cuidadosamente escolheu uma delas, a mais incandescente de todas, empurrando-a para fora do fogo.
Sentando-se novamente, permaneceu silencioso e imóvel.
O anfitrião prestava atenção a tudo, fascinado e também quieto.
Dentro de pouco tempo, a chama da brasa solitária diminuiu, até que após um brilho discreto e momentâneo, seu fogo se apagou em um instante mínimo.
Dentro de pouco tempo, o que antes era uma festa de calor e luz, agora não passava de um frio, morto e preto pedaço de carvão, recoberto de uma camada de cinza espessa.
Nenhuma palavra tinha sido pronunciada desde a protocolar saudação inicial entre os dois amigos.
Antes de preparar-se para ir embora, o amigo visitante movimentou novamente o pedaço de carvão já apagado, frio e inútil, colocando-o novamente no meio do fogo.
Quase que imediatamente o carvão voltou a desprender-se em uma nova chama, alimentado pela luz e o calor das labaredas dos outros carvões em brasa e ao redor dele.
Quando o amigo visitante se aproximou da porta para ir-se embora, seu anfitrião lhe disse:
Obrigado pela visita e pelo belíssimo sermão... !
Retornarei ao grupo de AMIGOS que muito bem sempre me faz...


                                                                           (Desconheço a autoria)


Clube 99

Era uma vez um rei muito rico. Tinha tudo. Dinheiro, poder, conforto, centenas de súditos. Mas, ainda assim não era feliz.
Um dia, cruzou com um de seus criados, que assobiava alegremente enquanto esfregava o chão com uma vassoura.
O rei ficou intrigado.
Como ele, um soberano supremo do reino, poderia andar tão cabisbaixo enquanto um humilde servente parecia desfrutar de tanto prazer?
– “Por que você está tão feliz?”, perguntou o rei.
– “Majestade, sou apenas um serviçal. Não necessito muito. Tenho um teto para abrigar minha família e uma comida quente para aquecer nossas barrigas”.
O rei não conseguia entender. Chamou então o conselheiro do reino, a pessoa em que mais confiava.
– “Majestade, creio que o servente não faça parte do Clube 99.
– “Clube 99? Mas, o que é isso?”
– “Majestade, para compreender o que é o Clube 99, ordene que seja deixado um saco com 99 moedas de ouro na porta da casa do servente”.
E assim foi feito.
Quando o pobre criado encontrou o saco de moedas na sua porta, ficou radiante. Não podia acreditar em tamanha sorte. Nem em sonhos tinha visto tanto dinheiro.
Esparramou as moedas na mesa e começou a contá-las.
-“…96, 97, 98… 99.”
Achou estranho ter 99. Achou que talvez tivessem derrubado uma.
Provavelmente eram 100. Mas, por mais que procurasse, não encontrou nada. Eram 99 mesmo.
De repente, por algum motivo, aquela moeda que faltava ganhou uma súbita importância.
Com apenas mais uma moeda de ouro, uma só, ele completaria 100. Um número de 3 dígitos! Uma fortuna de verdade.
Ficou então obcecado por completar seu recente patrimônio com a moeda que faltava.
Decidiu que faria o que fosse preciso para conseguir mais uma moeda de ouro. Trabalharia dia e noite. Afinal, estava muito perto de ter uma fortuna de 100 moedas de ouro.
Ele seria um homem rico, com 100 moedas de ouro.
E, daquele dia em diante, a vida do servente mudou.
Passava o tempo todo pensando em como ganhar uma moeda de ouro.
Estava sempre cansado e resmungando pelos cantos. Tinha pouca paciência com a família que não entendia o que era preciso para conseguir a centésima moeda de ouro.
Parou de assobiar enquanto varria o chão.
O rei, percebendo essa mudança súbita de comportamento, chamou seu conselheiro.
– “Majestade, agora o servente faz, oficialmente, parte do Clube 99.
E continuou:
– “O Clube 99 é formado por pessoas que têm o suficiente para serem felizes, mas mesmo assim não estão satisfeitas”.
“Estão constantemente correndo atrás dessa moeda que lhes falta. Vivem repetindo que se tiverem apenas essa última e pequena coisa que lhes falta, aí sim poderão ser felizes de verdade”.
“Majestade, na realidade é preciso muito pouco para ser feliz. Porém, no momento em que ganhamos algo maior ou melhor, imediatamente surge a sensação de que poderíamos ter mais”.
“Passamos a acreditar que, com um pouco mais, haveria de fato, uma grande mudança. E ficamos em busca de um pouco mais. Só um pouco mais”.
“Perdemos o sono, nossa alegria, nossa paz e machucamos as pessoas que estão a nossa volta”.
“O pouco mais, sempre vira… um pouco mais”.
“Esse pouco mais é o preço do nosso desejo.”
E concluiu:
– “Isso, majestade… é o Clube dos 99.


Fábula Árabe de autoria desconhecida.