Os anos se passaram numa velocidade avassaladora. E o tempo, sempre impiedoso, foi devastador com a matéria. Restaram os espíritos que hoje vagam como zumbis no desencantado mundo dos amantes arrependidos ou adormecidos nas florestas dos sonhadores, como lagartas que se recusam a eclodir dos seus casulos e virar borboletas à espera de que o destino se encarregue de traçar- lhes um plano de voo duplo. Onde foram guardados os sonhos azuis e corde-rosa que tingiam o desabrochar da adolescência? Perderam-se nas curvas de um caminho pavimentado com desejos que se descobriram inatingíveis ou colidiram com as intempéries da paisagem escura e intempestiva por onde transitavam as ambições dos amantes inconsequentes. Certamente, não resistiram aos ditames levianos de uma corte sem legitimidade para julgar pecados cordiais e sucumbiram aos incentivos maledicentes de uma plateia sem reputação.
O futuro não chegou rápido, mas dosou com parcimônia a fração exata dos dividendos de culpa que cabia a cada um. Arrependimentos tardios nem sempre têm o condão de resgatar sentimentos represados, assim como lamentos não curam feridas e nem apagam cicatrizes. Preces ou promessas não reconstituem ou alteram trajetórias opostas, não dissipam mágoas e nem restauram fissuras da alma. De uma cascata de saudades por onde jorrou toda a seiva extraída dos lábios ressecados, ouve-se uma permanente sinfonia que desperta os amanheceres de frustrações, embala os crepúsculos de uma ilusão sem fim e se constitui num réquiem para celebrar o ocaso de uma história de enredo torto, sem protagonista ou coadjuvante a legitimar o funeral de um amor morto que permanece insepulto e sem chances de ressuscitar.
Do Livro: O Cio do Ócio - Contos & Crônicas / Adenildo Aquino - Pág. 43 - São Paulo, Editora Biblioteca 24Horas, 1ª Edição – setembro de 2019
O futuro não chegou rápido, mas dosou com parcimônia a fração exata dos dividendos de culpa que cabia a cada um. Arrependimentos tardios nem sempre têm o condão de resgatar sentimentos represados, assim como lamentos não curam feridas e nem apagam cicatrizes. Preces ou promessas não reconstituem ou alteram trajetórias opostas, não dissipam mágoas e nem restauram fissuras da alma. De uma cascata de saudades por onde jorrou toda a seiva extraída dos lábios ressecados, ouve-se uma permanente sinfonia que desperta os amanheceres de frustrações, embala os crepúsculos de uma ilusão sem fim e se constitui num réquiem para celebrar o ocaso de uma história de enredo torto, sem protagonista ou coadjuvante a legitimar o funeral de um amor morto que permanece insepulto e sem chances de ressuscitar.
Do Livro: O Cio do Ócio - Contos & Crônicas / Adenildo Aquino - Pág. 43 - São Paulo, Editora Biblioteca 24Horas, 1ª Edição – setembro de 2019