"Você está envelhecendo, me disseram, você deixou de ser você, está ficando amargo e solitário!"
"Não,... eu respondi, não estou envelhecendo, estou ficando sábio."
Deixei de ser o que os outros gostam, para me tornar o que gosto de ser. Parei de buscar a aceitação dos outros. Para me aceitar, eu deixei para trás os espelhos mentirosos que enganam impiedosamente.
Não, não estou envelhecendo, estou me tornando assertivo, seletivo em relação a lugares, pessoas, costumes e ideologias.
Abandonei apegos, dores desnecessárias, pessoas, almas e corações; Não é por amargura, é simplesmente por causa da saúde.
Desisti das noites de festa por causa da insônia, parei de viver histórias e comecei a escrevê-las. Deixei de lado os estereótipos impostos.
Parei de usar maquiagem para esconder minhas feridas, agora carrego um livro que embeleza minha mente e minha alma.
Troquei taças de vinho por xícaras de café, esqueci de idealizar a vida e comecei a vivê-la.
Não, não estou envelhecendo, porque carrego o frescor na alma, e no coração a inocência de quem se descobre diariamente.
Carrego nas mãos a ternura de um casulo que, ao ser aberto, expandirá suas asas para outros lugares inacessíveis, para quem busca apenas a frivolidade das coisas materiais.
Carrego no rosto o sorriso que escapa maliciosamente ao observar a simplicidade da vida, da natureza, carrego nos ouvidos o chilrear dos pássaros alegrando meu caminhar.
Não, não estou envelhecendo, estou ficando seletivo, apostando meu tempo no intangível. Reescrevendo a história que um dia me contaram, redescobrindo mundos, resgatando aqueles livros antigos que esqueci no meio.
Estou ficando mais cauteloso, parei as explosões que nada ensinam. Estou aprendendo a falar de coisas transcendentes, estou aprendendo a cultivar conhecimentos, estou semeando ideais e forjando meu destino.
Não, não é que estou envelhecendo por dormir cedo aos sábados, é que aos domingos também é preciso acordar cedo, tomar um café sem pressa e ler com calma uma coletânea de poemas.
Não é por causa da velhice que andamos devagar, é para observar a falta de jeito de quem anda com pressa e tropeça no descontentamento.
Não é por causa da velhice que as pessoas às vezes permanecem caladas, é simplesmente porque nem todas as palavras precisam ser ecoadas.
Não, não estou envelhecendo, agora estou começando a viver o que realmente me interessa.
(Texto atribuído ao dramaturgo, poeta e romancista francês, Victor Hugo)