“Envelhecer é uma dádiva”. Li
essa frase na parede de um consultório
geriátrico. Como um “envelhescente” fiquei refletindo e procurando quais outras vantagens temos além do direito de poder estacionar em vagas especiais nos shopping centers. Isso pra quem tem carro, porque pra quem não tem, só resta usufruir das passagens gratuitas nos ônibus coletivos
urbanos, assim mesmo quando encontra um
motorista camarada que para no ponto,
mesmo ciente de que o passageiro vai extrapolar a meta – por viagem -
instituída pela empresa para esse público.
Fora isso a outra vantagem é tentar ser incluído no programa do governo
que distribui gratuitamente, comprimidos para pressão arterial. Por constatação
própria, as filas em estabelecimentos como supermercados, bancos, farmácias,
clinicas etc, criadas para facilitar o
atendimento ao publico “preferencial”, existem muito mais para cumprir
determinações legais que propriamente para ser um benefício ou conforto para o
sexagenário, pois via de regra levam mais tempo para atender que as que atendem ao público abaixo da faixa etária
em questão.
Outro dia ouvi de um amigo bem
mais novo que eu, que ele tinha medo de envelhecer porque os velhos não tem
utilidade social nenhuma. Pensei em discordar mas acho que ele tem razão, até certo
ponto. Os idosos são eternos alvos dos
mais variados tipos de bullying ou
discriminação. Quem por exemplo já não ouviu:
“Não liga não, ele está velho!” ou “Isso é coisa de Velho!”. Até criaram eufemismos para disfarçar a
discriminação: “Ele esta com problema de DNA” abreviação de “ Data de
Nascimento Antiga”, que as vezes é substituída por “ Isso é problemas de PVC” ( Porra da Velhice Chegando). E quando entra na vida sexual dos velhos,
ouvem-se as mais diversas gracinhas:
- Ele dá três por noite: Duas
tentativas e uma desistência, ou
- Ele dá duas... voltas na
fechadura da porta do quarto, ou ainda:
-
Ele levanta sim... mas três vezes para ir ao banheiro esvaziar a bexiga!
- Ele faz sexo quase todos os
dias! quase segunda, quase terça, quase quarta, quase quinta, quase sexta,
quase sábado e quase domingo.
Victor Hugo tem uma citação
afirmando que: “quarenta anos é a velhice dos jovens e cinquenta anos é a
juventude dos Velhos”. A expressão, pode até ter efeito motivacional para quem
não aceita as marcas implacáveis do tempo, mas é indiferente para quem não têm
resistência às leis da natureza.
Cinquenta anos é a fase em que se começa a se gastar com remédios, com consultas médicas, com exames disso,
exames daquilo. Esse negócio de dizer
que a gente envelhece por fora, e por dentro só envelhece se quiser, é conversa
fiada! O nosso organismo é uma máquina, cujas engrenagens sofrem os desgastes
normais como qualquer outra feita de ferro ou aço. Depois dos cinquenta, ficamos igual a carro velho
que quando apresenta um problema, na
oficina descobrem-se diversos
outros. Um amigo meu quando se
aposentou, falou que com a grana que receberia
poderia comprar ( e beber)
os uísques de sua preferência, mas esqueceu que para isso
precisava de um fígado novo. Outro, vivia falando que o coração não cria rugas,
mas parou de falar isso depois que implantou um “stent” após o diagnóstico
de doença arterial coronariana.
Conheço alguns “coroas” que não querem “coroas” . Buscam meninas novas
para se relacionarem (se justificam
invocando o ditado que diz que : “para cavalo velho o remédio é capim novo”.)
Quando consegue êxito nessas empreitadas pode ir atrás que não foi porque é
“gostoso”, mas por que é “gastoso”. Gasta muito para satisfazer o seu e o ego
delas. Há uns enxeridos, que quando
xavecam as mocinhas, só contribuem para aumentar o rol de frases e citações do
tipo: “ quem gosta de velho é
reumatismo” ou “quem pega acima de 60 é
radar”. Já Seu Durval, porteiro do
prédio, um cinquentão que vive dando em cima da mulherada querendo
arranjar um casamento, vende a ideia de que
“Panela velha é que faz comida boa”
e que “ Coco velho é que dá bom
azeite” ou “Pote velho é que esfria
água”. Puro desespero de um solteirão convicto de que um dia vai desencalhar.
Outro dia, li num para choque de caminhão: “você sabe que está ficando velho quando o trabalho começa a dar prazer e o prazer
começa a dar trabalho”. Nem sempre isso
é verdade, mas é uma tendência. A atriz
Tônia Carrero declarou certa vez que ouviu uma frase, que ela classificou como perfeita: “A velhice é uma prova de que o inferno
existe”. Já o Woody Allen escreveu que “Não há vantagem em envelhecer: não se fica
mais sábio e ainda se sofre com dor nas costas. Recomendo que não o façam”. Eu
acrescentaria nesta sua citação que além
da dor nas costas, existe a artrose, a
osteoporose, artrite, bursite, sinovite
e outros “ites”,
Depois dos cinquenta deixei
de comemorar aniversário!
Mando rezar uma missa em ação de graça,
tentando a cada ano, me convencer ou encontrar motivos para aceitar se realmente “ envelhecer é uma dádiva” !
Do Livro: O Cio do Ócio - Contos & Crônicas / Adenildo Aquino - Pág. 89 - São Paulo, Editora Biblioteca 24Horas, 1ª Edição – setembro de 2019
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