sexta-feira, 10 de março de 2023

PUDIM

Não há nada que me deixe mais frustrada do que pedir pudim de sobremesa, contar os minutos até ele chegar e aí ver o garçom colocar na minha frente um pedacinho minúsculo do meu pudim preferido.

Um só.

Quanto mais sofisticado o restaurante, menor a porção da sobremesa. Aí, a vontade que dá é de passar numa loja de conveniência, comprar um pudim bem cremoso e saborear em casa com direito a repetir quantas vezes a gente quiser, sem pensar em calorias, boas maneiras ou moderação.

O PUDIM é só um exemplo do que tem sido nosso cotidiano.

A vida anda cheia de meias porções, de prazeres meia-boca, de aventuras pela metade. A gente sai pra jantar, mas come pouco.

Vai à festa de casamento, mas resiste aos bombons.

Conquista a chamada liberdade sexual, mas tem que fingir que é difícil (a imensa maioria das mulheres continua com pavor de ser rotulada de 'fácil').

Adora tomar um banho demorado, mas se contém pra não desperdiçar os recursos do planeta.

Quer beijar aquele cara 20 anos mais novo, mas tem medo de fazer papel ridículo.

Tem vontade de ficar em casa vendo um DVD, esparramada no sofá, mas se obriga a ir malhar.

E por aí vai.

Tantos deveres, tanta preocupação em 'acertar', tanto empenho em passar na vida sem pegar recuperação...

Aí a vida vai ficando sem tempero, politicamente correta e existencialmente sem-graça, enquanto a gente vai ficando melancolicamente sem tesão...

Às vezes dá vontade de fazer tudo 'errado'. Deixar de lado a régua, o compasso, a bússola, a balança e os 10 mandamentos.

Ser ridícula, inadequada, incoerente e não estar nem aí pro que dizem e o que pensam a nosso respeito. Recusar prazeres incompletos e meias porções.

Até Santo Agostinho, que foi santo, uma vez se rebelou e disse uma frase mais ou menos assim: 'Deus, dai-me continência e castidade, mas não agora'...

Nós, que não aspiramos à santidade e estamos aqui de passagem, podemos (devemos?) desejar vários pedaços de pudim, bombons de muitos sabores, vários beijos bem dados, a água batendo sem pressa no corpo, o coração saciado.

Um dia a gente cria juízo.

Um dia. Não tem que ser agora.

Por isso, garçom, por favor, me traga: um pudim inteiro um sofá pra eu ver 10 episódios do 'Law and Order', uma caixa de trufas bem macias e o Richard Gere, nu, embrulhado pra presente, OK?

Não necessariamente nessa ordem.

Depois a gente vê como é que faz pra consertar o estrago .

                                                                        

  ( Marta Medeiros)

sexta-feira, 3 de março de 2023

O que é Caritó?

Na casa dos sertanejos era comum encontrar um pequeno móvel em forma de prateleira, usado para guardar miudezas fixada no alto de uma parede, onde as mulheres escondiam, fora do alcance das crianças, o carretel de linha, o pente, o pedaço de fumo, o cachimbo etc. ou então, onde não havia crianças, ficava jogado (esquecido) no canto do quarto ou da sala. Isso serviu de apelido maldoso para as moças que não se casavam e por isso se dizia: que ficar no caritó, era ficar  guardada na prateleira, esquecida, intacta e sem uso ou seja: “ ficou para a titia”, aquelas que não tiveram nenhum relacionamento amoroso e geralmente se dedicavam à igreja ou a obras de caridade  Nos anos 20 do século passado,  a mulher que chegasse aos 25 anos e não arranjasse marido estava condenada, coitada, a morrer no caritó.

Existe uma música ( Vitalina bota pó)  no estilo “coco/embolada” gravada em 1973 pela dupla de cantores nordestinos desse gênero, Rafael e Cheiroso,  enfatizando de forma irreverente, mas com uma dosagem de  ironia e preconceito,  como se comporta uma “Vitalina”.

"Moça velha quando entra no forró/se enrola no caboclo/feito cobra de cipó/ tira pó/vitalina bota pó/ que moça velha não sai mais do caritó"

"Moça velha quando entra no pagode/parece uma onça/quando quer pegar um bode/ tira pó/vitalina bota pó/ que moça velha não sai mais do caritó"

"Moça velha quando vai ao futebol/agita o corpo todo/ feito um peixe no anzol/ tira pó/vitalina bota pó/ que moça velha não sai mais do caritó"

"Moça velha quando vê rapaz solteiro/parece galo velho/dando volta no terreiro/tira pó/vitalina bota pó/ que moça velha não sai mais do caritó"

Para ouvir a musica completa, acesse o link:

 https://soundcloud.com/djdarvynorlan/rafael-cheiroso-vitalina-bota-po